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Pacto de Conformidade Ambiental da Soja (PCAS), uma alternativa a moratória da soja?

O Brasil, maior exportador de soja do mundo, enfrenta um embate sobre como alinhar sua produção às exigências ambientais globais. As normas europeias e a Moratória da Soja desafiam os produtores brasileiros a equilibrar a competitividade com a sustentabilidade. Dividido entre defensores e críticos dessas medidas, o setor agrícola discute pontos como desmatamento, soberania nacional, acesso a mercados internacionais e o impacto econômico para pequenos e grandes agricultores.

O Pacto de Conformidade Ambiental da Soja (PCAS) é uma iniciativa promovida pela Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso (Aprosoja-MT) com o objetivo de assegurar que a produção de soja no estado esteja em conformidade com as legislações ambientais vigentes. O programa visa capacitar os produtores rurais em práticas agrícolas sustentáveis, integrando aspectos ambientais e socioeconômicos nas lavouras.

Contexto atual

Recentemente, a Aprosoja-MT celebrou a sanção de uma lei estadual que impacta a aplicação da Moratória da Soja em Mato Grosso. Essa moratória proibia a compra de soja de áreas desmatadas após 2008, mesmo que o desmatamento fosse legal. A nova legislação busca restaurar a livre iniciativa e reafirmar o respeito à legislação ambiental brasileira, retirando incentivos fiscais de empresas que imponham restrições comerciais à produção ou criem entraves à livre iniciativa dos produtores rurais.

Além disso, a Aprosoja-MT tem se posicionado contra a Lei Antidesmatamento da União Europeia, que estabelece critérios ambientais rigorosos e barreiras comerciais para produtos agrícolas, como a soja e o milho. A associação alerta que, mesmo com o adiamento da aplicação da lei, os desafios relacionados à rastreabilidade e aos custos de conformidade para os produtores brasileiros persistem.

Em resumo, o Pacto de Conformidade Ambiental da Soja (PCAS) representa o compromisso da Aprosoja-MT e dos produtores mato-grossenses em alinhar a produção agrícola às exigências ambientais, promovendo práticas sustentáveis e assegurando a conformidade legal das atividades rurais no estado.

Do que se tratam as normas europeias e a moratória da soja?

As normas europeias, especialmente a Lei Antidesmatamento da União Europeia, proíbem a importação de produtos agrícolas oriundos de áreas desmatadas após 31 de dezembro de 2020. A rastreabilidade completa da cadeia produtiva é uma exigência para garantir que alimentos, como a soja, não estejam associados a práticas ambientalmente insustentáveis.

Já a Moratória da Soja, implementada em 2006 e renovada periodicamente, proíbe a compra de soja cultivada em áreas desmatadas da Amazônia após 2008, mesmo que o desmatamento seja legal. Essa iniciativa, firmada por grandes traders e organizações ambientais, visa combater o desmatamento e preservar a biodiversidade do bioma amazônico.

Os defensores da adesão às normas europeias e da moratória da soja

Preservação Ambiental e Combate às Mudanças Climáticas

  • Argumentam que essas medidas são essenciais para proteger biomas como a Amazônia e o Cerrado, responsáveis por regular o clima global e preservar a biodiversidade.
  • A rastreabilidade permite monitorar a origem da soja e evitar a associação com práticas predatórias, contribuindo para mitigar o impacto ambiental da agricultura.

Acesso e Competitividade no Mercado internacional

  • A União Europeia é um dos maiores mercados consumidores de soja brasileira. O cumprimento das normas ambientais é visto como estratégico para manter a presença no mercado europeu e garantir o diferencial competitivo em relação a outros exportadores.
  • Produtos que seguem essas exigências são percebidos como mais sustentáveis, podendo alcançar preços mais altos e atrair investidores globais.

Reputação do agronegócio brasileiro

  • Cumprir as normas internacionais melhora a imagem do Brasil como líder na produção de alimentos sustentáveis, fortalecendo parcerias comerciais e evitando boicotes de grandes consumidores.
  • A Moratória da Soja, em particular, é vista como uma garantia de que a produção brasileira está alinhada às demandas ambientais globais.

Críticos das normas europeias e da moratória da soja

Soberania nacional e autonomia legislativa

  • Defensores do setor produtivo argumentam que as normas europeias e a Moratória da Soja interferem na soberania brasileira, impondo regras externas que desconsideram o Código Florestal, uma das legislações ambientais mais rigorosas do mundo.
  • O desmatamento legal, permitido pela legislação nacional, é apontado como um direito legítimo que não deveria ser penalizado por padrões estrangeiros.

Impactos econômicos e excludentes

  • A rastreabilidade e outras exigências aumentam os custos de produção, dificultando o acesso de pequenos e médios agricultores aos mercados internacionais.
  • Muitos produtores, especialmente os que dependem da expansão de suas terras, afirmam que a Moratória da Soja restringe seu crescimento e reduz a competitividade frente a outros países que não enfrentam tais restrições.

Ineficiência e barreiras comerciais

  • Críticos afirmam que as medidas europeias e a moratória criam barreiras comerciais disfarçadas, favorecendo concorrentes de outros países, como os Estados Unidos.
  • Sustentam que o combate ao desmatamento ilegal e o incentivo a práticas sustentáveis são mais eficazes do que restrições comerciais amplas e complexas.

Pontos de divergência entre o PCAS e as normas europeias

O Pacto de Conformidade Ambiental da Soja (PCAS), promovido pela Aprosoja-MT, e as normas ambientais europeias, como a Lei Antidesmatamento da União Europeia, apresentam diferenças significativas que podem colocá-los em desacordo em determinados pontos. 

1. Rastreamento e Transparência na Cadeia Produtiva

  • Normas Europeias:
    • Exigem rastreabilidade detalhada da cadeia produtiva, comprovando que a soja exportada para a Europa não está associada a áreas desmatadas, mesmo que o desmatamento seja legal no país de origem.
    • A legislação europeia, como o Regulamento Antidesmatamento (Regulation (EU) 2021/1119), determina que os produtos agrícolas exportados devem ter sua origem verificada, evitando áreas de risco ambiental.
  • PCAS:
    • O pacto busca a conformidade com a legislação ambiental brasileira, que permite desmatamento legal sob critérios estabelecidos pelo Código Florestal.
    • O foco do PCAS está mais voltado para a adequação às leis nacionais, sem a exigência de rastreabilidade internacional detalhada como requerida pela Europa.

Conflito: O PCAS prioriza a conformidade com as regras locais, enquanto a União Europeia exige critérios globais que podem superar as normas brasileiras.

2. Critérios de Desmatamento

  • Normas Europeias:
    • Proíbem a importação de produtos agrícolas provenientes de áreas desmatadas após 31 de dezembro de 2020, mesmo que o desmatamento seja considerado legal pelas leis locais do país produtor.
    • A política europeia considera o impacto ambiental global e busca reduzir emissões associadas à conversão de florestas para agricultura.
  • PCAS:
    • Reconhece e respeita o desmatamento legal permitido pelo Código Florestal Brasileiro, incluindo a reserva legal e a área de proteção permanente (APP).
    • Não impõe restrições sobre a comercialização de soja proveniente de áreas que foram desmatadas legalmente.

Conflito: A União Europeia não aceita produtos oriundos de áreas desmatadas após 2020, enquanto o PCAS não impõe essa restrição, desde que o desmatamento esteja dentro da legalidade brasileira.

3. Inclusão Social e Direitos Indígenas

  • Normas Europeias:
    • Promovem o respeito estrito aos direitos humanos e territoriais, incluindo o direito de povos indígenas sobre suas terras e recursos naturais, como parte dos critérios de importação.
  • PCAS:
    • Embora o pacto inclua práticas de regularização fundiária, ele não destaca a questão dos direitos indígenas com a mesma centralidade que as normas europeias.
    • Algumas áreas produtoras em Mato Grosso ainda enfrentam conflitos fundiários envolvendo terras indígenas e uso agrícola.

Conflito: A abordagem europeia é mais abrangente em relação aos direitos indígenas, enquanto o PCAS foca na conformidade ambiental e legal segundo critérios nacionais.

4. Critérios de Sustentabilidade Global

  • Normas Europeias:
    • Consideram critérios globais de sustentabilidade, como redução de emissões de gases de efeito estufa e proteção de ecossistemas sensíveis.
    • Exigem relatórios detalhados sobre a pegada de carbono da produção e transporte.
  • PCAS:
    • Embora inclua práticas sustentáveis, como uso de tecnologias modernas, não há um enfoque direto na redução de emissões em escala global.
    • O pacto prioriza a eficiência produtiva e a sustentabilidade sob uma ótica regional.

Conflito: A União Europeia impõe critérios de sustentabilidade global que vão além dos requisitos do PCAS, focado em questões regionais e nacionais.

5. Barreiras Comerciais e Custos de Adequação

  • Normas Europeias:
    • Introduzem barreiras comerciais baseadas em critérios ambientais e de rastreabilidade.
    • Impõem custos adicionais para certificação e auditoria, que devem ser arcados pelos produtores e exportadores.
  • PCAS:
    • Não incorpora exigências internacionais, mas busca facilitar a produção e exportação com base na legislação brasileira.

Conflito: Os custos e exigências adicionais da União Europeia podem inviabilizar exportações de produtores que seguem apenas o PCAS.

O PCAS, enquanto representa uma iniciativa relevante para garantir a conformidade com as leis brasileiras, não atende plenamente às exigências das normas ambientais europeias. Os principais pontos de divergência incluem critérios mais rigorosos de rastreabilidade, proibição de produtos oriundos de áreas desmatadas após 2020, e maior ênfase nos direitos indígenas e na sustentabilidade global. Para alinhar-se às normas europeias, o PCAS precisaria integrar elementos adicionais que vão além do cumprimento da legislação brasileira.

O Desafio do futuro

A produção de soja no Brasil encontra-se no epicentro de um debate global sobre sustentabilidade, comércio justo e governança ambiental. O cumprimento das normas europeias e a adesão à moratória da soja podem garantir acesso a mercados lucrativos e fortalecer a reputação do agronegócio brasileiro. Por outro lado, há preocupações legítimas sobre soberania, custos de adequação e exclusão de pequenos produtores.

O desafio do setor é encontrar um equilíbrio que promova a preservação ambiental e, ao mesmo tempo, proteja a competitividade e a viabilidade econômica da produção brasileira. Seja por meio de ajustes nas políticas ambientais, maior apoio aos pequenos produtores ou fortalecimento do diálogo com parceiros internacionais, o futuro da soja brasileira depende de decisões que levem em conta tanto os interesses econômicos quanto as responsabilidades ambientais.

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