A Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) divulgou imagens inéditas de indígenas isolados na Terra Indígena Kawahiva do Rio Pardo, localizada em Colniza, Mato Grosso. A área, com cerca de 412 mil hectares, é uma das mais vulneráveis da Amazônia Legal, enfrentando constantes ameaças como desmatamento, grilagem e incêndios florestais. A Portaria nº 481 declarou a Terra Indígena em 2016, mas o governo ainda não concluiu a demarcação. Além disso, a Funai realiza monitoramento contínuo por meio de expedições, sobrevoos e da presença permanente nas Bases de Proteção Etnoambiental (Bapes). Essas ações garantem a segurança e autonomia desses povos, preservando seu modo de vida e evitando contatos indesejados.
Veja as imagens no final da matéria.
A Terra Indígena Kawahiva do Rio Pardo
Localizada no município de Colniza, a 1.055 km de Cuiabá, no Mato Grosso, a Terra Indígena Kawahiva do Rio Pardo abrange cerca de 412 mil hectares e é considerada uma das mais ameaçadas da Amazônia Legal. Especialistas apontam que o território, habitado por indígenas isolados, enfrenta intensa pressão ambiental, como o avanço da grilagem e da exploração madeireira. Apesar de sua importância ecológica e cultural, a região ainda carece de medidas eficazes de proteção devido à lentidão no processo de demarcação, o que a torna vulnerável a invasões e desmatamento.
Ações estratégicas e monitoramento
Por essa razão, as Bases de Proteção Etnoambiental (Bapes) desempenham um papel essencial na preservação da Terra Indígena Kawahiva. Essas estruturas estratégicas são mantidas por equipes da Funai, que realizam rodízios para garantir vigilância contínua e proteção ambiental. Além disso, parcerias com órgãos ambientais e de segurança pública fortalecem a fiscalização e ajudam a prevenir invasões e danos à floresta.
Portanto, a Funai também utiliza tecnologia para monitorar o território com o mínimo de invasividade. “Os sensores de movimento equipam essas câmeras, ajudando a recolher informações mais qualificadas sobre o grupo, o que auxilia no monitoramento e na elaboração de políticas públicas de proteção mais adequadas”, explicou Jair Candor. Essas câmeras permitem acompanhar a movimentação dos indígenas e identificar ameaças sem interferir em seu cotidiano.
Outra medida estratégica é a distribuição de ferramentas, como machados e facões, em pontos estratégicos da floresta. Essa prática visa evitar que os indígenas se arrisquem ao buscar utensílios em fazendas próximas, onde poderiam entrar em contato com invasores. “Colocamos essas ferramentas, de anos em anos, no interior da floresta, a fim de evitar que eles as procurem nas fazendas. Ou seja, tomamos atitudes preventivas para evitar um contato indesejado”, detalhou Candor.
Crescimento das ameaças ambientais
Além disso, o desmatamento na Terra Indígena Kawahiva cresceu de forma alarmante nas últimas décadas. Dados do Programa de Monitoramento da Floresta Amazônica Brasileira (PRODES) indicam que a área desmatada passou de 138 hectares em 2000 para 4.482 hectares em 2022. Entre dezembro de 2023 e janeiro de 2024, as equipes registraram 14 focos de calor na região, evidenciando o aumento das queimadas.
No entanto, a exploração madeireira ilegal e a grilagem são desafios persistentes. Fazendeiros e invasores disputam a posse do território, muitas vezes ignorando a legislação de proteção indígena. Em setembro de 2023, a Defensoria Pública da União solicitou ao governo de Mato Grosso a retirada imediata de invasores, mas a resposta efetiva ainda é limitada. “A demora nas ações aumenta a vulnerabilidade dos indígenas e coloca em risco toda a biodiversidade da região”, afirmou um representante da Defensoria.
Demarcação e papel do STF
A lentidão no processo de demarcação da Terra Kawahiva tem sido alvo de críticas e mobilizações. Em 2023, o Supremo Tribunal Federal (STF) determinou que a União apresentasse um cronograma para concluir a demarcação em 30 dias. No entanto, denúncias apontam que as decisões não estão sendo cumpridas, o que mantém os Kawahiva expostos a invasões e conflitos fundiários.
Atualmente, a Secretaria Especial de Saúde Indígena (SESAI) monitora a saúde dos povos da região, enquanto a gestão territorial conta com o suporte da Coordenação Regional de Ji-Paraná. Além disso, a falta de demarcação efetiva compromete o apoio de políticas públicas voltadas à saúde e ao bem-estar dos indígenas.
Conclusão
A Terra Indígena Kawahiva do Rio Pardo é um exemplo emblemático dos desafios enfrentados pelos povos indígenas no Brasil. Apesar das iniciativas da Funai, a proteção integral só será possível com o avanço do processo de demarcação e o fortalecimento de políticas públicas. A conscientização da sociedade e a atuação conjunta entre órgãos públicos e ambientais são indispensáveis para assegurar a sobrevivência dos indígenas isolados e a preservação de uma das áreas mais ricas em biodiversidade da Amazônia.