Os governos de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul estão colaborando em um projeto estratégico para construir uma ponte de concreto sobre o rio São Lourenço, conectando a Estrada Transpantaneira (MT) à MS-214 (MS). Essa iniciativa visa unir os pantanais mato-grossense e sul-mato-grossense, promovendo o ecoturismo e beneficiando as economias locais. Entretanto, moradores e ambientalistas têm uma opinião diferente sobre o assunto.
Após uma visita técnica conjunta, foi determinado que o traçado mais viável conecta diretamente o final da Transpantaneira à MS-214. A ponte terá cerca de 300 metros de extensão, com um investimento estimado entre R$ 50 e R$ 60 milhões. O projeto será elaborado por Mato Grosso, enquanto os custos de construção serão divididos igualmente entre os dois estados.
A região onde a ponte será construída é conhecida por sua rica biodiversidade e atrativos turísticos, como a observação de onças-pintadas em Porto Jofre.
O Governo de Mato Grosso do Sul está realizando obras na MS-214 para viabilizar o acesso ao local da futura ponte, com mais de 70% das obras já concluídas. Essa estrada será essencial para ligar a BR-163 até a nova ponte, consolidando a integração rodoviária entre os dois estados.
Moradores da região e ambientalistas expressam preocupação
A construção de uma ponte sobre o rio São Lourenço, conectando os Pantanais de Mato Grosso (MT) e Mato Grosso do Sul (MS), juntamente com o asfaltamento da rodovia Transpantaneira, suscita preocupações ambientais significativas, conforme estudos do MapBiomas e de outras instituições. A edificação de pontes em ecossistemas sensíveis, como o Pantanal, pode resultar em:
1. Aumento do tráfego e atropelamento de fauna
A pavimentação da Transpantaneira e a construção da ponte provavelmente aumentarão o volume de veículos na região, elevando o risco de atropelamentos de animais silvestres. A Transpantaneira, atualmente uma “Estrada Parque”, funciona como uma Unidade de Conservação para uso sustentável. O aumento do tráfego pode prejudicar a biodiversidade local, especialmente espécies vulneráveis.
2. Degradação do habitat natural
A construção da ponte e o asfaltamento podem levar à degradação de áreas sensíveis do Pantanal, afetando a flora e fauna regionais. Intervenções como a construção de uma ponte sobre o rio São Lourenço e obras até Corumbá podem resultar na degradação de partes significativas do Mato Grosso do Sul, prejudicando o ecossistema local.
3. Pressão para Escoamento de Grãos
Há preocupações de que a pavimentação facilite o escoamento de grãos, aumentando a pressão sobre o bioma pantaneiro. A federalização e conclusão da Transpantaneira visam criar uma via alternativa para o tráfego na região, possibilitando o escoamento da produção de grãos e recebimento de insumos, o que pode ser prejudicial ao equilíbrio ecológico.
4. Impacto no Ecoturismo
A região é reconhecida mundialmente como destino para avistamento de onças-pintadas, atraindo visitantes do Brasil e do exterior. A construção da ponte e o asfaltamento podem alterar a dinâmica do ecoturismo, afetando atividades como observação de fauna e flora, que dependem de um ambiente preservado.
5. Alterações no Modo de Vida Local
Comunidades tradicionais que dependem do equilíbrio ecológico para suas atividades podem ser afetadas pelas mudanças na infraestrutura e no aumento do tráfego, alterando seu modo de vida e subsistência. Diante dessas preocupações, moradores e ambientalistas estão se mobilizando para debater o projeto com as autoridades, buscando alternativas que conciliem desenvolvimento e preservação ambiental.
6. Facilitação de Atividades Ilegais: Melhorias na infraestrutura viária podem facilitar o acesso para atividades como caça ilegal e desmatamento, tráfico de entorpecentes, ameaçando a integridade do bioma.
7. Alterações no Regime de Inundações: A pavimentação pode interferir nos padrões naturais de inundação, essenciais para a dinâmica ecológica do Pantanal, afetando a flora e fauna adaptadas a esses ciclos.
Situação atual do pantanal de MT
Redução da superfície de água e aumento dos incêndios no pantanal
Estudos realizados pelo projeto MapBiomas, entre 1985 e 2023, revelam mudanças drásticas no Pantanal. A superfície de água e os campos alagados apresentam redução contínua, agravada por períodos mais longos de seca e pela intensificação das queimadas. Em 2023, as áreas alagadas representavam apenas 3,3 milhões de hectares, marcando uma redução de 61% em relação à média histórica. O último ano mapeado foi 38% mais seco que 2018, ano da última grande cheia, que por sua vez já era 22% menor que 1988, marco inicial da série histórica.
A diminuição na frequência e duração das inundações influencia diretamente o bioma. Áreas alagadas por mais de três meses ao ano estão desaparecendo, e os efeitos são visíveis na vegetação e nos incêndios, que afetam regiões anteriormente inundadas. Entre 2019 e 2023, queimadas atingiram 5,8 milhões de hectares, concentradas em áreas próximas ao Rio Paraguai.
Impactos do Uso antrópico e expansão agropecuária
A substituição de vegetação nativa por áreas de pastagem e agricultura, especialmente no Planalto da Bacia do Alto Paraguai (BAP), é apontada como um dos fatores que alteram a dinâmica hídrica. Desde 1985, o uso antrópico aumentou de 22% para 42%, com a conversão de 5,4 milhões de hectares de vegetação nativa, dos quais 2,4 milhões eram florestas e 2,6 milhões eram formações savânicas. Pastagens exóticas, que cresceram sobre áreas naturais, agora ocupam 77% das terras no planalto, destacando-se como o principal uso.
Na planície pantaneira, a perda de vegetação foi menos intensa, com a supressão de 1,8 milhão de hectares entre 1985 e 2023. Contudo, o impacto recente é notável, especialmente com a expansão de pastagens exóticas de 700 mil hectares em 1985 para 2,4 milhões em 2023, um aumento de 55% nos últimos 23 anos.
Consequências na vegetação e nos incêndios
Mudanças no regime hídrico e na cobertura vegetal transformam o Pantanal em um ambiente mais suscetível ao fogo. Pastagens exóticas, com baixo vigor vegetativo, demandam estratégias específicas de manejo, enquanto a substituição de vegetação campestre e campos alagados contribui para a degradação ambiental.
Dados mostram que as queimadas, inicialmente relacionadas à conversão de terras, agora atingem áreas que antes eram permanentemente alagadas. Incêndios recorrentes, especialmente entre agosto e outubro, coincidem com períodos de seca severa. Apesar de representarem apenas 4,8% da área total queimada, as pastagens exóticas refletem o impacto do uso intensivo de fogo na conversão inicial de vegetação nativa.
Desafios e Perspectivas
As conclusões do levantamento destacam a necessidade de manejo sustentável e conservação das áreas naturais para mitigar as mudanças climáticas e preservar a biodiversidade do Pantanal. A plataforma MapBiomas, que utiliza inteligência artificial e dados de alta resolução, torna-se uma ferramenta essencial para orientar políticas públicas e estratégias de manejo. Além disso, a expansão de iniciativas similares para outros países reforça o papel do monitoramento ambiental global.
Esses resultados enfatizam que, sem ações efetivas, o Pantanal continuará enfrentando secas severas, incêndios frequentes e perda irreversível de biodiversidade, comprometendo seu papel como regulador climático e hídrico da América do Sul.
Atores do ecoturismo promovem carta contra as obras
O texto completo da nota segue abaixo, juntamente com o link, caso queira assinar o documento.
Você, que trabalha com ecoturismo, que faz parte da sociedade civil ou que, simplesmente, se preocupa com a proteção do Pantanal, por favor, assine aqui carta contra a construção da ponte sobre o Rio São Lourenço, no Porto Jofre, e ajude a fazer frente a essa obra nociva ao turismo, ao meio ambiente e à economia local!
Não somos contra o desenvolvimento do Pantanal Mato-grossense, mas nos opomos fortemente à Ponte ligando Corumbá e Poconé, bem como o asfaltamento da Transpantaneira, cientes que ambas as obras prejudicarão o ecoturismo, o meio ambiente e a economia local.
Desenvolvimento não é apenas construir mais, mas cuidar do que já existe e encontrar o equilíbrio entre a geração de renda e um ambiente conservado. Esta ponte e o asfaltamento, não representam o desenvolvimento que queremos!
Link para carta e assinatura: clique aqui.