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Mudanças climáticas sobrecarregam emergências médicas no Brasil

Ilustração dengue_imagem IA_prompt_Rogério_Florentino

Eventos climáticos extremos aumentam a demanda hospitalar

As mudanças climáticas impactam diretamente a saúde pública no Brasil, sobrecarregando serviços de emergência e ampliando desafios para médicos e instituições hospitalares. O estudo publicado na revista Community and Interculturality in Dialogue, intitulado Implications of Climate Change on Brazilian Emergency Medicine, revela que enchentes, ondas de calor e incêndios florestais têm elevado a demanda por atendimentos emergenciais, comprometendo a resposta hospitalar e colocando populações vulneráveis em risco.

A pesquisa conduzida por Julio Cesar Garcia Alencar e Guilherme José Barreto Alcantara, da Universidade de São Paulo, destaca que estados como o Rio Grande do Sul enfrentam dificuldades severas diante de eventos climáticos extremos. “As enchentes recentes levaram um grande número de pacientes aos departamentos de emergência”, aponta o estudo. Além disso, surtos de doenças como dengue, intensificados pelo aumento da temperatura, elevaram a complexidade dos atendimentos.

Dengue e a sobrecarga hospitalar nas emergências

O impacto das mudanças climáticas sobre as doenças infecciosas também é destacado no estudo “Diretrizes Clínicas da ABRAMEDE para o Manejo de Dengue em Pacientes Adultos na Emergência”, publicado na JBMEDE. A pesquisa, conduzida por Lucas Oliveira Junqueira e Silva e Rafael von Hellmann, revela que a superlotação das emergências tem sido agravada pela dengue, cuja transmissão se intensifica em períodos de calor e chuvas intensas.

Segundo Silva et al., “o Brasil registrou um número recorde de casos de dengue em 2024, exacerbando a superlotação das emergências”. A pesquisa ressalta que o manejo clínico adequado é essencial para evitar a progressão para formas graves da doença e reduzir a mortalidade. “A triagem correta e o monitoramento dos pacientes na fase crítica são fundamentais para evitar complicações fatais”, destaca Rodrigo Antonio Brandão Neto, um dos autores do estudo.

Ondas de calor e a proliferação da dengue

O aumento das temperaturas favorece a transmissão da dengue e influencia diretamente o agravamento dos casos atendidos nos hospitais. Segundo o estudo da ABRAMEDE, “a elevação térmica prolongada impacta negativamente a resposta imune dos pacientes e aumenta a taxa de desidratação, dificultando a recuperação dos infectados”.

Para mitigar os impactos da dengue nas emergências, os hospitais devem seguir protocolos rigorosos. “A hidratação intravenosa precoce e o monitoramento do hematócrito são medidas essenciais para evitar casos graves”, explica Ian Ward Abdalla Maia, coautor da diretriz.

Leptospirose e os riscos sanitários das enchentes

As enchentes aumentam a exposição da população a doenças como leptospirose, hepatite A e infecções gastrointestinais, sobrecarregando ainda mais o sistema de saúde. Segundo o documento “Recomendação da ABRAMEDE sobre a Quimioprofilaxia para a Leptospirose na Crise Ambiental do Rio Grande do Sul”, publicado pela Associação Brasileira de Medicina de Emergência (ABRAMEDE), “a exposição prolongada à água contaminada eleva o risco de infecção e requer protocolos rígidos de prevenção e diagnóstico”.

O estudo destaca que a quimioprofilaxia com antibióticos não deve ser prescrita de forma indiscriminada. “Não existem evidências robustas que comprovem a eficácia da quimioprofilaxia na redução da mortalidade ou necessidade de internação”, explica Lucas Oliveira J. e Silva, coordenador da Comissão de Diretrizes da ABRAMEDE. A recomendação é que o uso da doxiciclina seja restrito a pacientes de alto risco, como aqueles com lesões abertas ou que ingeriram água contaminada.

Enchentes e surtos de doenças infecciosas

Além da leptospirose, o contato prolongado com a água contaminada eleva a incidência de infecções respiratórias e dermatológicas. “Durante inundações, a propagação de agentes infecciosos se intensifica, aumentando significativamente o número de internações nas emergências”, alerta Julio Marchini, autor do estudo da ABRAMEDE.

A ABRAMEDE recomenda que os serviços de emergência adotem protocolos específicos para triagem e tratamento de pacientes expostos a enchentes. Além disso, medidas preventivas como vacinação e campanhas de conscientização devem ser intensificadas para reduzir a propagação de doenças.

Planejamento hospitalar e resposta a desastres

Diante do agravamento das crises climáticas, a ABRAMEDE propõe estratégias para otimizar a resposta hospitalar em emergências. Entre as recomendações, destacam-se:

  • Capacitação contínua dos profissionais de saúde – “Treinamentos periódicos são fundamentais para garantir que médicos e enfermeiros saibam manejar corretamente pacientes em cenários de crise climática”, afirma Patrícia Lopes Gaspar, especialista em emergências hospitalares.
  • Reforço dos recursos hospitalares – Os departamentos de emergência precisam de mais investimentos, com ampliação de leitos, insumos médicos e suporte laboratorial para diagnóstico rápido de doenças relacionadas ao clima.
  • Implementação de protocolos eficazes de resposta a desastres – O planejamento hospitalar deve incluir medidas preventivas para minimizar os impactos das mudanças climáticas sobre os atendimentos emergenciais.

Logo, o Brasil precisa fortalecer sua capacidade de resposta a crises climáticas para evitar o colapso do sistema de emergência. Como enfatiza Julio Cesar Garcia Alencar, “a adaptação dos hospitais às novas realidades climáticas é urgente e exige investimentos estruturais e logísticos”.

A integração entre os setores de saúde e meio ambiente será essencial para garantir a resiliência do sistema hospitalar diante dos desafios impostos pelas mudanças climáticas.

Aumento dos casos de dengue em Mato Grosso em 2025

Até 5 de fevereiro de 2025, Mato Grosso registrou 3.515 casos confirmados de dengue, resultando em uma morte em Cuiabá e outras seis sob investigação. Além disso, há 7.110 casos prováveis da doença no estado. As autoridades de saúde atribuem esse aumento às elevadas temperaturas e ao maior volume de chuvas durante o verão, condições que aceleram a proliferação do mosquito Aedes aegypti, transmissor da dengue.

Em resposta, a Prefeitura de Cuiabá decretou estado de emergência na saúde pública devido ao risco de epidemia de dengue e chikungunya. O decreto, válido por 60 dias, prevê a criação de um Comitê de Operações Emergenciais para monitorar a situação e tomar decisões estratégicas. A Secretaria Estadual de Saúde enfatiza a importância de intensificar medidas preventivas, como eliminar focos de água parada, vedar caixas d’água e manter quintais limpos, visando combater a proliferação do mosquito e reduzir os casos de dengue no estado.

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