Mais de 78% dos desaparecimentos de crianças no Rio de Janeiro são resultado de fugas do lar. A informação foi dada no webinário “Por que todos os dias desaparecem crianças e adolescentes?”, promovido pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (URFJ) e a Fundação para a Infância, Adolescência e Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj).
O objetivo do encontro é garantir práticas e ações para ajudar a evitar que uma criança ou adolescente resolva sair de casa e desaparecer.
Os sumiços no estado têm endereço, gênero e raça. Segundo dados do SOS Crianças Desaparecidas referentes a outubro, 64% são meninas. A maioria dos desaparecidos é negra ou parda: 72%. A cor negra também é maioria quando os localizados são encontrados mortos: 58%. Em relação ao local de moradia, juntos, os 13 municípios da Baixada e a capital fluminense concentram 49,5% dos casos. Já as outras 78 cidades do estado somam 50,5% das ocorrências.
Chama a atenção o alto número de desaparecimentos voluntários, 78%, o que reflete uma vulnerabilidade social dessa criança ou adolescente, segundo a promotora do Ministério Público, Roberta Ribeiro. “Quando fala que “ah, ele saiu voluntariamente”, acontece, na maioria dos casos, uma certa inércia das instituições e de como enfrentar esse fenômeno. É mais uma nuance dessas vulnerabilidades que a infância negra, pobre atravessa. Então, lidar com isso, com essa saída e lidar com esses efeitos dessa saída e do que pode acontecer a partir dessa saída é mais um dos indutores, mais um dos propósitos que a promotoria funciona.”
Entre as causas, está a rebeldia dessas crianças, a falta de acolhimento nos respectivos lares e também a não aceitação dos responsáveis da orientação sexual ou religiosa, de acordo com o Coordenador do Laboratório de Estudos da Violência e Vulnerabilidade Social, da Universidade Mackenzie, Marcelo Neuman. “Minha filha é muito rebelde, não segue as regras que a gente coloca aqui em casa. Quando ele fala que é homossexual ou quando ele fala que se identifica com outro gênero, então isso é uma questão que muitas vezes a família não aceita. As famílias que vêm com seus conceitos morais, sociais, dificulta esse diálogo com as crianças e os adolescentes. levando à fuga do lar.”
Em relação às dificuldades no trabalho de busca dos desaparecidos está o fato de que, na maioria das vezes, a polícia escolhe, primeiro, ir atrás dos suspeitos em vez de encontrar o desaparecido, como aponta o defensor público Rodrigo Azambuja. “Na visão da própria polícia, o que é mais importante não é encontrar uma criança, o que é mais importante é prender um autor de um roubo, um autor de um furto. Na compreensão desses órgãos é que a gente consegue entender essa lógica. Não estou fazendo nenhuma crítica expressamente ao trabalho deles, mas é a lógica do sujeito que se entende lá policial, ele quer prender lá um traficante, um autor de um roubo, ele não quer ir atrás de uma criança que está desaparecida.”
Durante o evento, foi lançada uma cartilha sobre como registrar e se prevenir de desaparecimentos. Algumas dessas recomendações são manter a criança sob supervisão constante de um adulto e nunca deixá-la sozinha, principalmente em locais públicos. Para ver o conteúdo, acesse o site www.ifht.uerj.br e clique em publicações.
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Edição: Roberta Lopes / Alessandra Esteves