Os líderes das principais agências humanitárias da Organização das Nações Unidas (ONU) pediram a mais de uma dezena de países que retomem o financiamento da Agência das Nações Unidas para os Refugiados Palestinos (UNRWA, na sigla em inglês).
“O mundo não pode abandonar Gaza”, diz carta assinada por mais de dez dirigentes, incluindo o alto-comissário das Nações Unidas para os Refugiados, Filippo Grandi, e o diretor da Organização Mundial da Saúde, Tedros Adhanom.
Mais de 15 países, incluindo grandes doadores, como os Estados Unidos (EUA), o Reino Unido, o Canadá e a Alemanha, suspenderam o financiamento à UNRWA na semana passada, depois de Israel acusar funcionários da agência de estarem associados ao ataque do Hamas em solo israelense, em 7 de outubro.
Os líderes da ONU explicaram na carta que deixar a UNRWA sem financiamento “levaria ao colapso do sistema humanitário em Gaza”.
“As acusações de participação de vários funcionários da UNRWA nos ataques atrozes contra Israel em 7 de outubro são horríveis”, diz a carta.
“No entanto, não devemos impedir que uma organização inteira cumpra o seu mandato de servir pessoas que dela necessitam desesperadamente”, acrescentou o documento.
O secretário-geral da ONU, o português António Guterres, reuniu-se nessa terça-feira em Nova York com 35 Estados-membros, mais a União Europeia, para tentar garantir a continuidade do trabalho da UNRWA, da qual dependem milhões de palestinos.
No mesmo dia, o Canadá anunciou que vai destinar US$ 40 milhões a Gaza, por meio de outras agências da ONU.
A embaixadora dos EUA na ONU, Linda Thomas-Greenfield, afirmou que Washington não descarta a retomada do financiamento, mas que são necessárias “mudanças fundamentais” no funcionamento da agência.
A UNRWA anunciou que já rescindiu os contratos de todos os supostos envolvidos no ataque contra Israel e abriu investigação.
A agência trabalha para fornecer apoio, proteção e satisfazer as necessidades básicas de cerca de 5,6 milhões de refugiados palestinos registrados na Jordânia, no Líbano, na Síria, Cisjordânia e Faixa de Gaza.
Em 7 de outubro de 2023, combatentes do movimento islâmico Hamas fizeram, em território israelense, um ataque que deixou 1.139 mortos, a maioria civis, segundo balanço de Israel, e cerca de 250 reféns, dos quais mais de 100 permanecem em cativeiro.
Em retaliação, Israel declarou guerra para “erradicar” o Hamas, o que começou por cortes no abastecimento de comida, água, eletricidade e combustível na Faixa de Gaza e bombardeios diários, seguidos de ofensiva terrestre ao norte do território, que depois se estendeu ao sul.
A guerra entre Israel e o Hamas fez até agora em Gaza mais de 26 mil mortos, mais de 65 mil feridos e 8 mil desaparecidos, em sua maioria civis, além de quase 2 milhões de deslocados (mais de 85% dos habitantes). O conflito, segundo a ONU, mergulhou o enclave palestino, sobrepovoado e pobre, numa grave crise humanitária, com toda a população afetada por níveis graves de fome.
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