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Negociações falham em levar ajuda humanitária a Gaza

Negociações falham em levar ajuda humanitária a Gaza

Os esforços diplomáticos para obter um cessar-fogo e a permissão da entrada de ajuda humanitária na Faixa de Gaza, que está sob cerco israelense, fracassaram nesta segunda-feira (16), e Israel ordenou a retirada da população de território próximo à fronteira com o Líbano, aumentando os temores de que a guerra pode se espalhar para novas frentes.

Israel prometeu aniquilar o Hamas, que controla a Faixa de Gaza, após guerrilheiros do movimento cruzarem a fronteira no dia 7 de outubro e matarem mais de 1,3 mil israelenses — a maioria civis —, no dia mais mortal do país em seus 75 anos de existência.

O ataque deixou a Faixa de Gaza, lar de 2,3 milhões de palestinos, sob bloqueio total, ao mesmo tempo em que é atingida por bombardeios sem precedentes. Há expectativa de que também ocorra um ataque israelense por solo.

Autoridades de Gaza dizem que mais de 2,8 mil pessoas foram mortas ali, cerca de um quarto delas crianças, e mais de 10 mil feridos estão em hospitais com desesperadora falta de suprimentos.

Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), 1 milhão de moradores da Faixa de Gaza já deixaram suas casas. A região está sem energia elétrica, a água potável é escassa e as últimas reservas de combustível para geradores de emergência de hospitais podem acabar em apenas um dia.

Moradores de Gaza afirmam que os ataques aéreos da última noite foram os mais intensos até o momento, e que as ações continuaram durante o dia.

“Estávamos dentro de casa quando encontramos corpos espalhados, voando pelos ares – corpos de crianças que não têm nada a ver com a guerra”, afirmou Abed Rabayaa. A casa vizinho dele foi atingida durante a noite em Khan Younis, principal cidade do sul de Gaza.

No maior sinal até agora de que a guerra pode escalar a um outro nível, Israel ordenou a retirada de pessoas de 28 vilarejos próximos até 2 quilômetros da fronteira com o Líbano. O movimento Hezbollah afirma ter atingido cinco posições israelenses.

Na semana passada, ocorreram os mais sangrentos conflitos na fronteira desde uma guerra em 2006 entre Israel e o Hezbollah. O grupo é aliado do Irã, tal como o Hamas.

Em discurso no Parlamento, o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, afirmou que os cidadãos do país devem se preparar para uma longa batalha, e alertou Teerã e o Hezbollah.

“Agora estamos concentrados em um alvo: unir forças e seguir para a vitória. Isso nos obriga a ter determinação, porque a vitória levará tempo”, disse. 

“E tenho uma mensagem para o Irã e o Hezbollah: não nos testem no norte. Não cometa o mesmo erro que cometeu antes. Porque hoje o preço que você pagará será muito mais pesado.”

Os dez dias de ataques até agora não impediram o Hamas de continuar atirando foguetes contra Israel, onde as sirenes de alerta seguem soando. O grupo palestino afirmou ter atirado contra Jerusalém e Tel Aviv.

Durante um desses alertas, o secretário de Estado dos Estados Unidos, Antony Blinken, e o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, tiveram de se abrigar por cinco minutos em um bunker nesta segunda-feira.

Os esforços diplomáticos estão concentrados em permitir a entrada de ajuda humanitária em Gaza por meio da fronteira com o Egito em Rafah, única saída da Faixa de Gaza que não é controlada por Israel.

O lado egípcio da travessia estava deserto nesta segunda-feira, e caminhões carregados de suprimentos esperavam sua abertura na cidade vizinha de Al-Arish.

O Cairo disse que a passagem de Rafah não estava oficialmente fechada, mas inoperante, devido a ataques israelenses no lado de Gaza.  Autoridades norte-americanas têm esperança de que o local opere por algumas horas ainda nesta segunda, afirmou o porta-voz da Casa Branca, John Kirby.

“Estamos aguardando o sinal verde para a entrada da ajuda e dezenas de voluntários estão prontos a qualquer momento”, disse um funcionário do Crescente Vermelho no norte do Sinai.

“Há uma necessidade urgente de aliviar o sofrimento dos civis palestinos na Faixa de Gaza”, afirmou o ministro das Relações Exteriores egípcio, Sameh Shoukry, acrescentando que as negociações com Israel para a chegada de ajuda humanitária foram infrutíferas até o momento.

Os Estados Unidos também estão concentrados em permitir a abertura temporária da fronteira para que centenas de cidadãos de Gaza que possuem passaporte norte-americano possam deixar a região. Shoukry afirmou que o Egito pode permitir a retirada de pessoas por motivos médicos e de pessoas com permissão para viajar.

Não há conversas públicas, no entanto, para que o Egito permita uma entrada massiva de refugiados. Assim, a grande maioria dos palestinos de Gaza não deve conseguir uma rota de saída. Egito e outros Estados árabes afirmam que um êxodo seria inaceitável, porque significaria a expulsão de fato dos palestinos de sua própria terra.

Aqueles que tentam chegar à fronteira descrevem o trajeto como perigoso.

“A caminho da passagem fronteiriça, eles bombardearam a Rua Rafah e começamos a gritar”, afirmou um morador, Hadeel Abu Dahoud, perto da fronteira. “Nenhum lugar de Gaza é seguro. Onde quer que formos, há ataques aéreos, bombardeios, choros, gritos, sangue.”

Israel disse que mais de 1 milhão de pessoas no norte de Gaza precisam se dirigir ao sul pela sua própria segurança, embora o Hamas tenha dito para ficarem onde estão.

Ainda que dezenas de milhares tenham cumprido a determinação israelene e se dirigido ao sul, a ONU afirma que não há como deslocar tantas pessoas sem causar uma catástrofe humanitária.

A cada dia de bombardeio, os cidadãos da Faixa de Gaza precisam escalar escombros de edifícios colapsados, usando suas próprias mãos para resgatar vizinhos e recuperar corpos, sem quaisquer equipamentos mecânicos para afastar o entulho.

Abid Saqir, oficial de emergência civil, disse à Reuters que havia pelo menos mil corpos soterrados nos escombros em toda a região.

Mohammad Abu Saleema, diretor do Hospital Shifa, o maior da região, afirmou que aqueles com ferimentos graves precisam ser levados a hospitais fora da Faixa de Gaza, ou não haveria mais como atender novos feridos.

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