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Metas Climáticas em Xeque: a jornada do Brasil no combate às emissões de carbono

As emissões globais de carbono seguem sendo um dos maiores desafios da atualidade, com implicações econômicas e ambientais profundas. De acordo com os dados mais recentes do Global Carbon Project, a emissão global de CO₂ de origem fóssil atinge níveis alarmantes, enquanto os esforços para mitigação ainda encontram barreiras na transparência e na coordenação internacional.

O Brasil, uma das maiores economias emergentes e protagonista em biodiversidade, também carrega um papel crucial nesse cenário. O país comprometeu-se, no Acordo de Paris, a reduzir 37% das emissões de gases de efeito estufa até 2025, e 43% até 2030, com base nos níveis de 2005. Entretanto, dados detalhados que conectem setores econômicos e regiões às metas estipuladas ainda carecem de maior divulgação.

Impactos econômicos e ambientais

As emissões brasileiras estão fortemente associadas ao desmatamento e à produção agropecuária. Essas atividades não apenas contribuem significativamente para o aquecimento global, mas também geram desafios econômicos, ao comprometer mercados internacionais que exigem sustentabilidade como critério de negociação.

Países em destaque

Globalmente, setores como energia e transporte lideram as emissões, enquanto países industrializados, como EUA e China, figuram como os maiores emissores. No entanto, países em desenvolvimento, como o Brasil, enfrentam desafios adicionais ao equilibrar desenvolvimento econômico e sustentabilidade.

Compromissos e lacunas

Embora o Brasil possua planos robustos no papel, como o Plano Nacional sobre Mudança do Clima (PNMC), a execução carece de fiscalização e de metas intermediárias claras. A ausência de transparência nos dados de emissões, como observado no arquivo analisado, dificulta o acompanhamento de compromissos climáticos e a implementação de políticas efetivas.

O cumprimento do Acordo de Paris exige esforços coordenados, tanto domésticos quanto internacionais. O Brasil precisa reforçar a governança ambiental e expandir a rastreabilidade das emissões, fornecendo dados acessíveis para análise e monitoramento.

Os gráficos abaixo abordam a projeção de redução de emissões no Brasil, exibe os compromissos assumidos pelo Brasil no Acordo de Paris, com redução de emissões de 37% até 2025 e 43% até 2030, em relação aos níveis de 2005. E a distribuição de emissões por setor econômico, mostrando a participação estimada de cada setor nas emissões nacionais, destacando o impacto da energia e da agropecuária como os maiores contribuintes.

Fontes de emissões na agropecuária

  1. Fermentação entérica:
    • O processo digestivo de ruminantes, como gado bovino, gera metano (CH₄), um gás de efeito estufa com potencial de aquecimento cerca de 28 vezes maior que o dióxido de carbono (CO₂) em um período de 100 anos.
    • No Brasil, o rebanho bovino é um dos maiores do mundo, contribuindo significativamente para essas emissões.
  2. Manejo de dejetos animais:
    • Dejetos armazenados em condições anaeróbicas liberam grandes quantidades de metano e óxido nitroso (N₂O), outro gás de efeito estufa altamente potente.
  3. Uso de fertilizantes e cultivo do solo:
    • O uso intensivo de fertilizantes nitrogenados e a decomposição da matéria orgânica no solo emitem N₂O.
    • A expansão de culturas como soja e milho para alimentação animal amplifica essas emissões.
  4. Mudança no uso da Terra:
    • O desmatamento para criação de pastagens ou plantação de monoculturas contribui diretamente para a liberação de CO₂ armazenado em florestas e solos.

Impactos ambientais

  1. Mudanças Climáticas:
    • A agropecuária responde por cerca de 25% das emissões globais de gases de efeito estufa, com destaque para o metano e o óxido nitroso.
    • No Brasil, o setor agropecuário contribui com cerca de 25% a 30% das emissões totais, liderado pela pecuária.
  2. Degradação do Solo e da Água:
    • Práticas agrícolas intensivas podem causar erosão do solo, perda de fertilidade e contaminação de recursos hídricos.
  3. Perda de Biodiversidade:
    • O desmatamento e a conversão de ecossistemas naturais para pastagens ou plantações resultam na redução de habitats naturais.

Impactos econômicos

  1. Custos climáticos:
    • O aquecimento global causado pelas emissões agrícolas pode impactar diretamente a produtividade agrícola, aumentando os custos para adaptar plantações e rebanhos às mudanças climáticas.
  2. Barreiras comerciais:
    • A crescente demanda internacional por práticas sustentáveis pressiona exportadores brasileiros a adotar medidas que reduzam emissões, sob risco de perder mercados-chave.
  3. Investimentos em mitigação:
    • A introdução de tecnologias, como sistemas integrados de lavoura-pecuária-floresta (ILPF) e o uso de aditivos para reduzir metano em ruminantes, pode representar custos elevados inicialmente, mas são essenciais para viabilizar o setor no longo prazo.

Soluções possíveis para reduzir emissões agrícolas

  1. Intensificação Sustentável:
    • Aumentar a produtividade por hectare para reduzir a necessidade de expansão de terras.
  2. Tecnologias de Mitigação:
    • Uso de aditivos na alimentação de ruminantes para reduzir a fermentação entérica.
    • Manejo eficiente de dejetos animais para capturar metano.
  3. Políticas Públicas e Incentivos:
    • Subsídios para práticas agrícolas regenerativas, como plantio direto e recuperação de pastagens degradadas.
    • Monitoramento rigoroso do desmatamento e incentivos para a produção sustentável.

Impactos diretos do desmatamento sobre as emissões

  1. Liberação de Carbono Armazenado:
    • As florestas, especialmente na Amazônia, armazenam grandes quantidades de carbono na biomassa (troncos, folhas, raízes) e no solo. Quando essas áreas são desmatadas, seja por corte ou queimadas, o carbono é liberado na forma de dióxido de carbono (CO₂), contribuindo significativamente para o aquecimento global.
    • Estima-se que o desmatamento tropical seja responsável por cerca de 10% das emissões globais de gases de efeito estufa.
  2. Queimadas:
    • Comuns nas práticas de desmatamento, as queimadas liberam CO₂ e outros poluentes como metano (CH₄) e óxidos de nitrogênio (NOₓ), exacerbando o efeito estufa.

Impactos indiretos do desmatamento sobre a agropecuária

  1. Expansão de Pastagens:
    • No Brasil, uma grande parte do desmatamento é impulsionada pela expansão de pastagens para criação de gado. A pecuária, além de causar emissões diretas (fermentação entérica e manejo de dejetos), depende do desmatamento para suprir a demanda por novas áreas.
  2. Conversão para agricultura comercial:
    • Florestas desmatadas são frequentemente convertidas para o cultivo de soja e outros produtos agrícolas, que por sua vez intensificam emissões associadas ao uso de fertilizantes nitrogenados e à degradação do solo.
  3. Mudança no microclima local:
    • A remoção de florestas reduz a capacidade de resfriamento natural das áreas e altera padrões de precipitação, impactando a produtividade agrícola e levando a um uso mais intensivo da terra, o que pode aumentar as emissões.

Efeitos colaterais sobre o ciclo do carbono

  1. Perda da Capacidade de Sequestro de Carbono:
    • As florestas desempenham um papel vital como sumidouros de carbono, absorvendo CO₂ da atmosfera. O desmatamento elimina essa função, transformando áreas que antes reduziam gases de efeito estufa em fontes emissoras.
  2. Impacto na biodiversidade:
    • A perda de florestas reduz a biodiversidade, incluindo microrganismos que contribuem para a manutenção de solos saudáveis e para o ciclo do carbono.

Conexão com as metas climáticas

O desmatamento amplifica as emissões agrícolas ao associar as emissões diretas das práticas agropecuárias às emissões resultantes da conversão do uso da terra. Esse ciclo vicioso compromete as metas climáticas do Brasil no Acordo de Paris, já que grande parte das emissões nacionais é proveniente da mudança no uso da terra.

Soluções possíveis para reduzir o impacto do desmatamento

  1. Recuperação de áreas degradadas:
    • Substituir o desmatamento por estratégias de recuperação de pastagens e uso sustentável do solo.
  2. Aumento da produtividade:
    • Melhorar a produtividade em terras já desmatadas para evitar a expansão desnecessária.
  3. Monitoramento e fiscalização:
    • Uso de tecnologia, como satélites, para monitorar o desmatamento e aplicar punições rigorosas a práticas ilegais.
  4. Adoção de sistemas agroflorestais:
    • Integrar práticas agrícolas com conservação florestal para balancear produção e preservação.

Agroflorestas, um modelo possível

As agroflorestas ajudam a reduzir emissões de gases de efeito estufa (GEEs) por meio de um sistema integrado que combina a agricultura, a pecuária e a silvicultura em uma mesma área. Essa prática sustentável oferece uma alternativa ao desmatamento e às emissões associadas às monoculturas convencionais, promovendo benefícios ambientais, econômicos e sociais.

1. Sequestro de carbono

  • Armazenamento de carbono em árvores:
    • As árvores plantadas em sistemas agroflorestais capturam dióxido de carbono (CO₂) da atmosfera durante o crescimento e o armazenam na biomassa (troncos, folhas e raízes) e no solo.
    • Agroflorestas podem sequestrar até 10 toneladas de carbono por hectare por ano, dependendo da espécie e da densidade de árvores.
  • Estoque de carbono no solo:
    • A cobertura do solo com árvores e plantas ajuda a aumentar o conteúdo de matéria orgânica, melhorando a capacidade do solo de armazenar carbono.

2. Redução de emissões diretas

  • Substituição de fertilizantes sintéticos:
    • Árvores leguminosas em agroflorestas fixam nitrogênio no solo naturalmente, reduzindo a necessidade de fertilizantes químicos, que liberam óxido nitroso (N₂O), um GEE muito potente.
  • Redução do uso de queimadas:
    • As agroflorestas eliminam ou reduzem significativamente o uso de queimadas como método de manejo, evitando a liberação de grandes quantidades de CO₂ e outros poluentes.
  • Melhor manejo de dejetos animais:
    • Em sistemas que combinam agroflorestas e pecuária, os dejetos podem ser usados como fertilizantes naturais, evitando emissões do manejo inadequado.

3. Prevenção de mudanças no uso da terra

  • Conservação de florestas nativas:
    • Sistemas agroflorestais incentivam o uso sustentável de terras já desmatadas, reduzindo a pressão para novas conversões de florestas em pastagens ou monoculturas.
  • Recuperação de áreas degradadas:
    • As agroflorestas revitalizam áreas anteriormente improdutivas, evitando a expansão para áreas de floresta intacta.

4. Redução das emissões associadas à cadeia produtiva

  • Redução da necessidade de importação de insumos:
    • A produção local de madeira, alimentos e forragens diminui a dependência de transporte de longa distância, reduzindo as emissões associadas à logística.
  • Diversificação e eficiência:
    • Ao produzir vários produtos (frutas, madeira, alimentos para animais, etc.) na mesma área, as agroflorestas aumentam a eficiência da terra e reduzem a pegada de carbono.

5. Benefícios climáticos indiretos

  • Regulação do microclima:
    • Árvores fornecem sombra e regulam a temperatura local, reduzindo a evaporação e a necessidade de irrigação. Isso economiza energia e recursos.
  • Resiliência a mudanças climáticas:
    • Agroflorestas aumentam a biodiversidade e a estabilidade ecológica, ajudando os sistemas agrícolas a resistir a extremos climáticos, como secas e enchentes.

6. Exemplos de sucesso

  • Sistemas ILPF (Integração Lavoura-Pecuária-Floresta):
    • No Brasil, o sistema ILPF, uma forma de agrofloresta, combina a criação de gado, o cultivo de grãos e o plantio de árvores. Essa prática tem demonstrado grande potencial para reduzir emissões e aumentar a produtividade.
  • Plantios silvipastoris:
    • Árvores em pastagens melhoram a alimentação animal, reduzem emissões de metano por fermentação entérica e sequestram carbono.

7. Comparação com sistemas convencionais

Aspecto Agroflorestas Monoculturas Convencionais
Sequestro de Carbono Alto Baixo
Uso de Insumos Químicos Reduzido Elevado
Biodiversidade Alta Baixa
Pressão sobre Florestas Reduzida Alta
Resiliência Climática Alta Baixa

O Brasil tem um enorme potencial para liderar a implementação de sistemas agroflorestais em escala global, aproveitando suas vantagens naturais, sociais e econômicas. Com uma vasta extensão territorial, biodiversidade única e protagonismo no agronegócio, o país pode se posicionar como um modelo de agricultura sustentável.

Estratégias para implementação

 

1. Fortalecer políticas públicas

  • Incentivos econômicos:
    • Criar programas de subsídios para produtores que adotem práticas agroflorestais, como o Plano ABC+ (Agricultura de Baixa Emissão de Carbono).
    • Oferecer linhas de crédito específicas para implantação e manutenção de sistemas agroflorestais.
  • Marco regulatório:
    • Estabelecer políticas claras para regularizar e incentivar sistemas agroflorestais, integrando-os ao Código Florestal e às políticas de recuperação de áreas degradadas.
  • Pagamentos por serviços ambientais (PSA):
    • Compensar produtores que utilizam agroflorestas por seus benefícios ambientais, como sequestro de carbono e conservação da biodiversidade.

2. Investir em pesquisa e desenvolvimento

  • Melhoria genética de espécies:
    • Desenvolver espécies arbóreas e culturas agrícolas adaptadas às condições brasileiras e aos diferentes biomas (Amazônia, Cerrado, Mata Atlântica).
  • Mapeamento de áreas potenciais:
    • Identificar áreas prioritárias para a implantação de agroflorestas, como pastagens degradadas e regiões de baixa produtividade.
  • Tecnologias de baixo custo:
    • Promover o desenvolvimento de tecnologias acessíveis para pequenos e médios produtores, como manejo integrado e sistemas de irrigação sustentáveis.

3. Capacitar produtores e comunidades

  • Educação rural:
    • Oferecer capacitação técnica em agroflorestas para agricultores, pecuaristas e comunidades locais, por meio de programas como o SENAR (Serviço Nacional de Aprendizagem Rural).
  • Apoio a pequenos produtores:
    • Priorizar pequenos agricultores e assentamentos rurais, que podem ser beneficiados com maior produtividade e geração de renda em sistemas agroflorestais.
  • Incentivar o protagonismo indígena:
    • Reconhecer o papel das populações indígenas e tradicionais, que já utilizam sistemas agroflorestais ancestrais, integrando seus conhecimentos ao desenvolvimento de novas práticas.

4. Promover o mercado de produtos sustentáveis

  • Certificação de produtos:
    • Desenvolver selos para produtos originados de agroflorestas, aumentando o valor agregado no mercado interno e externo.
  • Acesso a mercados internacionais:
    • Expandir o comércio de produtos agroflorestais, como cacau, açaí e castanha, para atender à crescente demanda por alimentos sustentáveis.
  • Articulação com o setor privado:
    • Incentivar empresas a integrar produtos agroflorestais em suas cadeias de fornecimento, promovendo modelos sustentáveis em larga escala.

5. Monitoramento e transparência

  • Uso de tecnologias avançadas:
    • Implementar ferramentas de monitoramento via satélite e inteligência artificial para acompanhar a expansão e os impactos positivos das agroflorestas.
  • Indicadores de sustentabilidade:
    • Criar métricas específicas para medir os benefícios das agroflorestas, como carbono sequestrado, biodiversidade preservada e melhoria da qualidade do solo.

6. Liderança em fóruns internacionais

  • Acordos globais:
    • Posicionar-se como líder nas negociações climáticas, promovendo agroflorestas como uma solução para cumprir as metas do Acordo de Paris.
  • Transferência de tecnologia:
    • Compartilhar expertise e tecnologias com outros países tropicais, fortalecendo o papel do Brasil como referência em agricultura sustentável.
  • Atrair investimentos verdes:
    • Buscar financiamento internacional para projetos de agroflorestas, destacando o potencial do Brasil como uma solução global para o clima.

7. Exemplos práticos de liderança

  1. Expansão do ILPF:
    • Ampliar o sistema Integração Lavoura-Pecuária-Floresta, que já provou ser eficiente em reduzir emissões e aumentar a produtividade.
  2. Recuperação de pastagens degradadas:
    • Transformar áreas improdutivas em sistemas agroflorestais, promovendo a conservação e a geração de renda.
  3. Parcerias com instituições Globais:
    • Colaborar com organizações internacionais, como FAO e ONU, para promover sistemas agroflorestais em escala global.

Benefícios para o Brasil

  • Ambientais:
    • Redução de emissões de carbono, recuperação de áreas degradadas e conservação da biodiversidade.
  • Econômicos:
    • Aumento da competitividade no mercado internacional e diversificação de fontes de renda para agricultores.
  • Sociais:
    • Melhoria da qualidade de vida no campo, geração de empregos verdes e fortalecimento de comunidades locais.

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