A Anistia Internacional denunciou, esta segunda-feira (25), a repressão pelas Forças Armadas Árabes da Líbia (LAAF) em Derna, cidade no leste do país, com o objetivo de “silenciar as críticas da sociedade civil e de fugir às responsabilidades”.
Jornalistas, funcionários de agências humanitárias e médicos relatam a dificuldade de acesso às comunidades atingidas pela Tempestade Daniel, que provocou o colapso de duas barragens e devastou a cidade de Derna, no último dia 11 de setembro.
“As mortes e a devastação em Derna, na Líbia, são uma tragédia inimaginável. No entanto, em vez de facilitar o acesso humanitário às comunidades afetadas, a LAAF está silenciando críticas, reprimindo a sociedade civil e fugindo às responsabilidades”, condenou Diana Eltahawy, diretora regional adjunta da Anistia Internacional para o Oriente Médio e Norte de África.
Em comunicado divulgado hoje, a Anistia Internacional (AI) apelou para que as autoridades locais que controlam, de fato, o Leste da Líbia garantissem a defesa dos Direitos Humanos e levantassem de imediato todas as restrições indevidas impostas aos meios de comunicação social que estão na região para tentar proceder à facilitação de ajuda humanitária a todas as comunidades afetadas.
“Em tempos de crise, uma sociedade civil vibrante e meios de comunicação independentes são vitais para garantir os direitos dos sobreviventes à vida, à habitação segura, à alimentação, à saúde e ao acesso à informação”, defendeu Diana Eltahawy.
No entanto, na cidade de Derna, devastada pelas inundações catastróficas que causaram a morte de dezenas de milhares de pessoas e deixaram milhares de pessoas desaparecidas, são vários os relatos de residentes, jornalistas e trabalhadores humanitários que expõem os constrangimentos na prestação de auxílio.
Postos de controle
Segundo a Anistia Internacional, o grande número de postos de controle terrestres impostos pelas autoridades do Leste da líbia – com a necessidade de autorizações de segurança – tem causado atrasos na chegada da ajuda humanitária a algumas áreas afetadas e dificultado o trabalho de jornalistas na região.
Na última terça-feira (19), um porta-voz da Organização das Nações Unidas (ONU) disse à imprensa que uma equipa das Nações Unidas não teve autorização para se deslocar a Derna. Desde o início da crise, vários jornalistas que estão na região têm sido alvo de repressão.
Jornalistas alegam ter sido perseguidos sistematicamente por agentes militares da LAAF, e intérpretes forçados a não traduzir conteúdos que questionassem ou criticassem a ação das autoridades líbias.
Na segunda-feira (18) da semana passada, após as manifestações na cidade afetada de Derna, as Forças Armadas ordenaram aos jornalistas que abandonassem a cidade, tendo mais tarde voltado atrás na decisão e proibido que os jornalistas se aproximassem das equipes de salvamento.
No rescaldo das inundações, quando ainda há milhares de pessoas desaparecidas, a Anistia Internacional apela à responsabilidade das autoridades políticas e militares líbias, através da realização de inquérito independente, para avaliar “a má gestão por parte de governos rivais e a livre atuação de milícias e grupos armados que dão prioridade aos seus interesses próprios em detrimento da vida e do bem-estar dos civis na Líbia”, declaram.
Diana Eltahawy considera que há uma necessidade urgente de apurar os fatos e circunstâncias sobre o colapso das duas barragens.
“O objetivo é verificar se as autoridades líbias e os responsáveis pelo controle de fato das zonas afetadas não protegeram os direitos da população à vida, à saúde e outros direitos humanos”, conclui.
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