O uso de insumos biológicos tem se consolidado como uma alternativa sustentável e eficaz no controle de pragas e doenças nas lavouras brasileiras, especialmente na cultura da soja. Segundo Eduardo Martins, presidente do Grupo Associado de Agricultura Sustentável (GAAS), essa prática é fundamental para a transição rumo a uma agricultura regenerativa, oferecendo benefícios que vão desde a melhoria na germinação até o aumento da fertilidade do solo.
Martins destaca que os tratamentos biológicos são menos agressivos às sementes durante a germinação, permitindo uma interação mais harmoniosa com o ecossistema do solo. “Ao utilizarmos produtos químicos no tratamento de sementes, podemos causar distúrbios que afetam negativamente o desenvolvimento inicial das plantas, resultando em raízes defeituosas. Com os biológicos, observamos estímulos positivos no crescimento e uma melhor qualidade na germinação”, afirma.
No modelo on farm, o tratamento biológico é realizado diretamente na fazenda, seja por meio do tratamento das sementes ou pela aplicação dos produtos no sulco de plantio. Segundo Martins, a prática de inserir os insumos diretamente no sulco tem se tornado predominante devido aos resultados consistentes em vigor e produtividade.
Entre os produtos mais utilizados, destacam-se os inoculantes à base de Bradyrhizobium, fundamentais para a fixação de nitrogênio, além de bactérias do gênero Bacillus, que atuam como bioestimulantes e supressivos de doenças. Outro destaque é o Trichoderma, eficaz no controle de fungos e na promoção de raízes saudáveis.
O mercado de biológicos no Brasil continua em franca expansão. Segundo a CropLife Brasil, o setor cresceu 15% na safra 2023/2024 em relação ao ciclo anterior, alcançando um valor estimado em bilhões de reais. Esse crescimento reflete a confiança dos agricultores nas soluções biológicas como parte de um manejo sustentável.
Além de melhorar a qualidade inicial das mudas, os biológicos garantem maior vigor às plantas, tornando-as mais resistentes e produtivas. Para Martins, a adoção desses insumos representa uma evolução no manejo agrícola, alinhando sustentabilidade e eficiência: “A fase inicial bem estabelecida da planta é essencial para uma produção robusta e saudável. Quando adotamos biológicos, garantimos não apenas a produtividade, mas também a regeneração dos solos e o equilíbrio ambiental”, conclui.
No cultivo da soja no Brasil, os insumos biológicos desempenham um papel crucial na promoção de práticas agrícolas sustentáveis e no aumento da produtividade. Entre os principais exemplos de insumos biológicos utilizados estão:
1. Inoculantes de Bradyrhizobium spp.: Essas bactérias são essenciais para a fixação biológica de nitrogênio (FBN), convertendo o nitrogênio atmosférico em formas assimiláveis pelas plantas. Estima-se que cerca de 80% dos produtores brasileiros de soja adotem inoculantes à base de Bradyrhizobium spp.. Essa prática reduz a necessidade de fertilizantes nitrogenados sintéticos, promovendo economia e benefícios ambientais.
2. Coinoculação com Azospirillum spp.: A coinoculação combina Bradyrhizobium com Azospirillum spp., resultando em efeitos sinérgicos que potencializam a FBN e estimulam o crescimento radicular. Essa técnica já é utilizada em mais de 25% da área cultivada com soja no país, contribuindo para plantas mais vigorosas e produtivas.
3. Bactérias do gênero Bacillus: Espécies como Bacillus subtilis atuam como bioestimulantes e agentes de controle biológico, promovendo o crescimento das plantas e suprimindo patógenos do solo. Sua aplicação resulta em plantas mais saudáveis e resistentes a doenças.
4. Fungos Trichoderma spp.: Trichoderma é eficaz no controle de fungos fitopatogênicos, como Sclerotinia sclerotiorum, causador do mofo-branco na soja. Além disso, promove o desenvolvimento de raízes saudáveis, melhorando a absorção de nutrientes e a resistência a estresses abióticos.
5. Micorrizas arbusculares: Esses fungos formam associações simbióticas com as raízes das plantas, aumentando a absorção de nutrientes, especialmente fósforo. Sua utilização melhora a eficiência nutricional e a saúde geral das plantas.
A adoção desses insumos biológicos no cultivo da soja no Brasil reflete uma tendência crescente de práticas agrícolas mais sustentáveis, que aliam produtividade à preservação ambiental.
Agrotóxicos e suas alternativas biológicas
No cultivo da soja no Brasil, o manejo de pragas, doenças e plantas daninhas é tradicionalmente realizado com o uso de agrotóxicos. Contudo, práticas mais sustentáveis têm promovido a substituição desses produtos por alternativas biológicas.
Principais agrotóxicos utilizados na soja e suas correspondentes alternativas biológicas:
1. Herbicidas para controle de plantas daninhas
- Glifosato: É o herbicida mais utilizado no Brasil, representando 62% do total de herbicidas aplicados, especialmente em culturas como soja, milho e trigo.
Alternativa Biológica: O uso de bioherbicidas, que são produtos derivados de microrganismos ou extratos vegetais, oferece uma opção menos agressiva ao meio ambiente. Por exemplo, extratos de plantas com propriedades alelopáticas podem inibir o crescimento de ervas daninhas.
2. Inseticidas para controle de pragas
- Clorpirifós: Utilizado no controle de diversas pragas, como lagartas e percevejos, em culturas de soja.
Alternativa Biológica: A aplicação de fungos entomopatogênicos, como Beauveria bassiana e Metarhizium anisopliae, atua no controle biológico de insetos-praga, infectando e matando esses organismos de forma natural.
- Lambda-cialotrina: inseticida empregado contra lagartas e outros insetos mastigadores.
Alternativa Biológica: A introdução de parasitoides, como vespas do gênero Trichogramma, que parasitam ovos de pragas, reduzindo sua população antes que causem danos significativos às lavouras.
3. Fungicidas para controle de doenças
- Mancozeb: Fungicida utilizado no controle de doenças fúngicas, como a ferrugem asiática da soja.
Alternativa Biológica: A aplicação de fungos antagonistas, como Trichoderma spp., que competem com patógenos por espaço e nutrientes, além de produzirem substâncias que inibem o crescimento de fungos causadores de doenças.
A adoção dessas alternativas biológicas não só reduz a dependência de agrotóxicos, mas também promove a sustentabilidade agrícola, preservando o equilíbrio ecológico e a saúde humana.