As forças armadas francesas iniciaram conversações com os seus homólogos militares do Níger, para estabelecer a retirada de “elementos” do contingente alocado no país para combater grupos armados islâmicos, confirmaram fontes do Ministério da Defesa de França.
“Existem trocas localmente entre militares para facilitar as movimentações de meios franceses imobilizados desde a suspensão da cooperação antiterrorista”, reconheceu na manhã desta terça-feira (5) o gabinete do ministro da Defesa, Sébastien Lecornu.
As mesmas fontes garantiram à Agência France Presse que “tiveram início as conversas sobre a retirada de certos elementos militares”. “É normal falar disso, na medida em que a cooperação antiterrorista foi interrompida” depois do golpe de estado de 26 de julho, acrescentou uma delas, citada pelo jornal Le Monde.
Na segunda-feira (4), o primeiro-ministro do Níger, designado pela Junta militar que assumiu o poder, Ali Mahaman Lamine Zaine, tinha revelado a existência de “contatos” para uma saída “muito rápida” das tropas francesas do país.
A notícia foi confirmada hoje, apesar de, ao jornal Le Monde e à AFP, as fontes ministeriais francesas insistirem que as conversações não envolvem, até o momento, nenhum representante da Junta, uma vez que a legitimidade desta não é reconhecida pela França.
Prazo
A França exige o retorno ao poder do presidente eleito, Mohamed Bazoum, deposto e colocado sob prisão domiciliar pela Junta e com quem o presidente francês, Emmanuel Macron, se mantém em contacto.
A Junta militar que tomou o poder no Níger denunciou unilateralmente os acordos de cooperação assinados com Paris pelo governo anterior que permitiam a presença francesa. O prazo de um mês para a retirada do contingente francês terminou domingo (3).
Paris rejeita oficialmente a ideia de esvaziar as três bases militares que mantém no Níger e que abrigam cerca de 1,5 mil soldados.
No atual estágio das negociações, ainda não foi decidido nem o número de soldados que devem sair, nem a forma de retirada.
Desde o golpe, drones, helicópteros e aviões da França se mantêm no solo. Os soldados franceses estão estacionados em uma base perto da capital, Niamey, em outra perto de Ouallam, a capital do Norte do Níger, e em uma terceira base em Ayoru, perto da fronteira com o Mali.
Algumas unidades poderão ser transferidas para outro país da região, como o vizinho Chade. Outra hipótese é o repatriamento.
Paris sob pressão
As relações entre o Níger e a França deterioraram-se rapidamente nas últimas semanas após o golpe militar.
Na segunda-feira, o primeiro-ministro designado Ali Mahaman Lamine Zaine disse, contudo, que a expectativa é de “manter a cooperação se possível com um país com o qual partilhamos muitas coisas”.
A pressão para a retirada de soldados franceses tem aumentado nos últimos dias, com manifestações que exigem o fim da presença militar francesa cercando a base aérea onde se encontra parte do contingente, em Niamey.
O golpe militar no Níger foi mais um sério revés para a influência francesa na região do Sahel, depois de ocorrências semelhantes no Mali, em 2020 e em Burkina Faso, em 2022.
No final de agosto, outro golpe militar, desta vez no Gabão, afastou o Presidente Ali Bongo Ondimba, cujo pai liderou o país durante mais de quatro décadas, com apoio de Paris.
A França reagiu com mais contenção à queda da dinastia do Gabão do que ao afastamento do seu aliado Bazoum, eleito em um processo democrático.
É proibida a reprodução deste conteúdo