Documentos e testemunhos obtidos pelo Centro de Antropologia e Arqueologia Forense (Caaf), ligado a Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e analisados com exclusividade pela Agência Pública indicam que a colaboração da Folha de S. Paulo com a ditadura foi mais profunda do que se sabia.
Segundo a pesquisa, o grupo Folha teria emprestado carros de distribuição de jornais para que agentes da repressão os usassem para disfarçar operações do regime nas ruas e que teriam resultado em prisões, assassinatos e desaparecimento de militantes da esquerda armada. Um dos testemunhos mais importantes obtidos pela Unifesp/Caaf foi uma entrevista dada aos pesquisadores pelo ex-agente de informação do Exército, Marival Chaves do Canto, que atuou no DOI-CODI (Destacamento de Operações e Informações e Centro de Operações de Defesa Interna) do Exército, em Brasília.
Ele afirma que os carros eram usados como cobertura de pontos (encontros) entre militantes da esquerda armada que na maioria das vezes eram presos, torturados e assassinados: “Era um contato feito dentro da direção. Essa direção escalava um carro para tal lugar, tal hora, para estar ali naquele local. Ali, entrava-se em contato com pessoas, dirigentes da operação, posicionava o carro no local mais adequado e, a partir daí, o processo se desenvolvia. Para que não houvesse testemunha, o motorista era dispensado”, diz ele.
A pesquisa aprofunda também a compreensão sobre as relações íntimas do Grupo Folha no período mais agudo dos anos de chumbo com policiais que perseguiam a esquerda e, ao mesmo tempo, de acordo com testemunho colhido na pesquisa, estavam contratados pelo jornal, ora como repórteres e redatores ou prestando serviços de segurança à empresa. Entre eles estavam dois delegados do Departamento de Ordem Política e Social (DOPS), os irmãos Robert e Edward Quass, além do nome mais forte da repressão política no país, Sérgio Fleury, o delegado que chefiou o “esquadrão da morte” e depois recebeu carta branca do regime militar para torturar e matar oponentes políticos.
O nome de Fleury surgiu num depoimento de outro investigador do DOPS, Messias Ayrton Scatena, em 1973, que também trabalhou como jornalista do grupo e acabou sendo processado na auditoria militar paulista por ter vazado informações sigilosas para a namorada, uma jornalista que trabalhava na mesma empresa. Scatena diz em depoimento que Roberto Quass era do serviço secreto do DOPS e, junto com o irmão, chefiava os “serviços de segurança de toda a empresa Folha de S. Paulo”. Scatena faz a afirmação no mesmo trecho que relata que “outro delegado, Dr. Sérgio Fleury também participa dos mesmos serviços e mais especificamente relativamente a subversão e terrorismo”.
A Agência Pública teve acesso à íntegra das declarações de Marival. Ex-sargento que por 17 anos, entre 1968 e 1985, conheceu por dentro as engrenagens da ditadura, ele contradiz a principal versão dos antigos donos da Folha, Octavio Frias de Oliveira e Carlos Caldeira Filho, que sempre negaram ter dado apoio material à repressão.
Perguntado pelos pesquisadores se o empréstimo dos carros poderia ter ocorrido sem o conhecimento dos dois principais dirigentes da Folha, o ex-agente foi taxativo: “Em hipótese nenhuma. (…) É uma atividade super arriscada. (…) Já pensou surgir na imprensa, como isso ia depor contra o nome da empresa, se acontecesse um negócio desses sem a anuência dos dirigentes, do seu Frias e outras pessoas da direção da Folha? Em hipótese alguma”, sustentou Marival. “Alguém estava apoiando porque queria a perpetuação do regime (…), consequentemente estava levando algum tipo de vantagem econômico-financeira”, afirmou. Aos pesquisadores da Unifesp/Caaf, pelo menos outros 12 entrevistados, entre jornalistas, ex-agentes de repressão e ex-presos políticos, confirmam, em diferentes abordagens, o uso dos carros.
Emboscada com caminhão da Folha
Segundo relatos, o episódio mais emblemático ocorreu no dia 23 de setembro de 1971 em frente ao número 2.358, da Rua João Moura, Sumarezinho, Zona Oeste da capital paulista, quando três guerrilheiros da Ação Libertadora Nacional (ALN) foram atraídos para uma cilada e acabaram surpreendidos por policiais que repentinamente teriam saltado de dentro de uma camioneta baú da frota da Folha. Sobrevivente da emboscada, a militante Ana Maria Nacinovic Corrêa, então com 25 anos, assassinada dez meses depois, contou a dirigentes da ALN, que o grupo guerrilheiro, como havia feito em outras ocasiões para se apossar de armas de policiais descuidados, cercou um jipe do Exército aparentemente quebrado e com apenas um soldado vigiando, sem dar importância para um pequeno caminhão da Folha que estaria estacionado próximo.
Assim que renderam o soldado, que portava displicentemente uma arma longa (fuzil ou metralhadora), os militantes da ALN teriam sido surpreendidos pelos agentes. Eles teriam descido atirando, ferindo três militantes da organização que constam nas listas de desaparecidos políticos: Antônio Sérgio de Matos, Eduardo Antônio da Fonseca e Manoel José Nunes Mendes de Abreu. A pesquisa da Unifesp acrescenta ao episódio o depoimento que Suzana Lisboa, ex-militante da ALN, ex-integrante da Comissão Especial de Mortos e Desaparecidos Políticos e viúva de um ex-militante da mesma organização, Luiz Eurico Tejera Lisboa, morto pela polícia em 1972, deu à Comissão Nacional da Verdade em 2014. “(…) um carro baú […] da Folha de São Paulo. Esse é um dos momentos em que há participação direta da empresa “Folha de São Paulo” no assassinato de militantes da ALN. Na época eu convivia aqui em São Paulo e ouvia essa informação de dirigentes da ALN”, afirma ela.
Marival diz que com poucos recursos oficiais à época, os órgãos de repressão buscavam apoio material de empresas. As camionetas baú da Folha eram práticas porque as portas abriam toda a parte traseira, permitindo mobilidade aos agentes. “A Folha participava, dava colaboração às operações de rua, especialmente aquelas (…) de cobertura de pontos, onde as pessoas que entravam morriam”, afirma o ex-agente, lembrando de apenas um dos episódios que teve sobrevivente. “(…) houve um caso, por exemplo, no restaurante Varela, na Mooca (…) de Antônio Carlos Bicalho Lana. Ele conseguiu romper o cerco com uma metralhadora, a tiros etc. Mas a maioria morreu”, relata.
Na emboscada, em 16 de julho de 1972, morreram Ana Maria Nacinovic, Iuri Xavier Pereira e Marcos Nonato da Fonseca. Lana seria assassinado em São Vicente, litoral Sul de São Paulo, em outro cerco, em 30 de novembro de 1973 junto com a também militante da ALN Sônia Angel Jones, nora da estilista Zuzu Angel, morta em acidente misterioso enquanto procurava pelo paradeiro do filho, Stuart Angel Jones, também executado.
A informação de que carros da Folha foram usados nas operações policiais surgiu depois que a ALN investigou caminhões de distribuição da Ultragaz, que também se envolveu no apoio ao regime militar. A denúncia partiu de uma militante da organização que, presa em 1970, viu que outro empresário, o dinamarquês Henning Albert Boilesen, integrante do GPMI (Grupo Permanente de Mobilização Industrial) criado pela Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (FIESP) para fornecer insumos e equipamentos à ditadura, era presença frequente na sede da O levantamento da ALN apontou que Boilesen apoiava ostensivamente a polícia com equipamentos, dinheiro arrecadado de outros empresários, era presença assídua nos porões e cedia para a polícia os caminhões da empresa Ultragaz, de distribuição de gás na cidade. Esse detalhe levou a ALN a confirmar através de checagens e pelo relato de militantes presos ou sobreviventes, que os carros da Folha também teriam sido usados como disfarce em circunstâncias parecidas. Boilesen e Frias de Oliveira entraram na mira da organização no mesmo período. “O Frias ficou com medo, mas não seria assassinado. O plano era sequestrá-lo e trocá-lo por companheiros presos”, contou à Pública o jornalista e ex-preso político, Ivan Seixas, que pertencia ao MRT e hoje é ativista dos direitos humanos. Em duas ações distintas, uma em 21 de setembro de 1971 e a outra no dia 26 do mês seguinte, com o objetivo de denunciar os donos da Folha, a ALN incendiou três camionetas do jornal. Num comunicado publicado no periódico Venceremos, da organização, também acusou a Folha de entregar ao CODI uma “lista suja” com nomes de funcionários suspeitos de subversão demitidos. A reação da Folha foi um editorial com o título de “Banditismo”, publicado na primeira página, escrito e assinado de forma inédita pelo próprio Frias, afirmando que as ameaças não alterariam “a linha de conduta” do jornal e argumentando que o país tinha “um governo sério, responsável e com indiscutível apoio popular”. Quando o segundo carro foi destruído, o dono da Folha afirmou que as ações da ALN seriam reações à “firme e consciente posição” do jornal na “veemente condenação do terrorismo”. A ALN reforçaria as ameaças, alertando que seu “justiçamento” era uma questão de tempo. Frias mudou-se, então, com toda a família para o prédio da Folha, na Barão de Limeira, e teria passado a contar com um aparato de segurança do próprio Departamento de Ordem Política e Social (DOPS), o que reforçaria a relação íntima do jornal com policiais iniciada bem antes das ameaças. Os pesquisadores da Unifesp/Caaf entrevistaram outras três testemunhas que viram os carros da Folha em diferentes ações dos órgãos da repressão nas ruas. Ivan Seixas, que foi preso aos 16 anos, junto com o seu pai, Joaquim Alencar Seixas, contou ter estranhado a presença de carros de distribuição de jornal da Folha estacionados na rua em frente à OBAN, na Rua Tutóia. “Carro de transporte de jornal parado na frente de uma delegacia? Tem alguma coisa errada. E a reincidência foi muito grande. Depois, vários companheiros relataram que foram até transportados por carros da Folha”, disse ele. Relato semelhante foi feito pelo jornalista Francisco Carlos de Andrade, que afirmou ter visto carros do jornal enfileirados no pátio da OBAN. O ex-deputado Adriano Diogo, detido junto com sua mulher, Arlete, contou aos pesquisadores que um carro da Folha ficou estacionado próximo à sua casa várias horas antes da invasão da polícia. Na direção de jornalismo do grupo, embora o assunto fosse incômodo, a maioria sabia da colaboração, indicam documentos e depoimentos. “(…). A Folha ajudava a fazer isso materialmente, não era ideologicamente. A história não pode ignorar isso, embora a Folha negue. […] a Folha apoiou os atos mais escabrosos [da ditadura], mais desumanos. Nada retirará esse caráter essencial do papel da Folha”, disse o jornalista Jorge Okubaro que, como secretário de redação da Folha da Tarde, participava das reuniões de pauta diárias. A versão é confirmada por outros três jornalistas, Antônio Carlos Fon, Wianey Pinheiro, à época repórter da Folha e presidente do Sindicato dos Jornalistas de São Paulo, e José Luiz Proença, assim como dois agentes dos órgãos de repressão, os delegados Cláudio Guerra e Carlos Alberto Augusto, este conhecido como Carteira Preta e Carlinhos Metralha. Carteira foi homem de confiança do delegado Sérgio Fleury. Em entrevista aos pesquisadores, o policial valoriza o trabalho realizado pelo Grupo Folha e defende que os dirigentes sejam recompensados por conta de seus préstimos à ditadura: “Todo mundo que ajudou na repressão tem que ser indenizado (…) Sem sombra de dúvidas. E com muito dinheiro. Porque o que estão fazendo com ele aqui agora, estão querendo denegrir a empresa dele (…) Tem que ser indenizado sim. E com muito dinheiro, tem que levantar o jornal”. Coordenadora da pesquisa, a jornalista Ana Paula Goulart, historiadora e professora de comunicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), frisa que não tem nenhuma dúvida que o Grupo Folha emprestou seus veículos às operações de caçada aos militantes de esquerda e diz que embora Caldeira tenha sido responsável pela frota de veículos do jornal e personagem tão próximo ao regime militar que acabou sendo indicado prefeito biônico de Santos, no litoral Sul de São Paulo, a pesquisa aponta que a responsabilidade é dos dois sócios. “Tentam jogar para o Caldeira, mas os dois sabiam o que cada um fazia. O Caldeira não tomaria uma decisão dessa sem a anuência dos Frias”, conclui. A pesquisadora sustenta, também, que a colaboração acabou sendo atestada de forma contundente pelo filho do dono do grupo, o ex-diretor de redação da Folha, Otavio Frias Filho, conhecido no meio jornalístico como Otavinho, num depoimento para a biografia do pai ao jornalista Engel Paschoal, autor de A trajetória de Octavio Frias de Oliveira, publicado em 2007 pela editora do jornal, a Publifolha, trecho resgatado pela pesquisa. “Depois de conversar com o meu pai (e) até com gente que teve ligações com a guerrilha naquela época, eu diria que sim: os caminhões de transporte da Folha foram usados por equipes do DOI-Codi para fazer campana e até prender guerrilheiros, ou supostos guerrilheiros”, disse Otavinho, conforme consta na página 157 da obra. Os “supostos guerrilheiros” deve-se, naturalmente, à recusa de Frias pai em reconhecer o caráter político das ações armadas de oponentes do regime, como o empresário deixou claro num editorial de 30 de junho de 1972, com o provocador título “Presos Políticos?”. Nele, critica seu concorrente, o jornal O Estado de S. Paulo, por defender tratamento especial a “criminosos” que “mais não são que assaltantes de bancos, sequestradores, ladrões, incendiários e assassinos”. A declaração de Otavinho, que morreu em 2018, é a única da família Frias reconhecendo a colaboração. Seu pai, Frias de Oliveira, faleceu em 2007 sem nunca ter admitido a cessão dos carros. Numa reportagem do próprio jornal por ocasião dos 100 anos da Folha, em 2021, foi reproduzida uma entrevista antiga de Frias de Oliveira em que havia afirmado que “se isso ocorreu”, foi à sua revelia, e negou ter colaborado com os órgãos de repressão. A pesquisa é parte do projeto “A responsabilidade de empresas por violações de direitos durante a ditadura”, que além da Folha incluiu outras nove empresas e envolveu, no total, 55 pesquisadores selecionados através de edital pelo Centro de Antropologia e Arqueologia Forense (CAAF), da Unifesp, em parceria com Ministério Público Federal e Ministério Público do Estado de São Paulo, material que foi obtido com exclusividade pela Pública. No caso da Folha, a pesquisa durou quase dois anos, ao longo dos quais, entre jornalistas, militantes políticos, ex-agentes e empresários, foram entrevistadas mais de 40 pessoas, além de terem ocorrido buscas em arquivos públicos, bibliografia e em jornais. Boa parte das informações sobre a colaboração da Folha com a repressão e a relação íntima da redação do jornal com policiais constam no livro Cães de Guarda – jornalistas e censores, do Numa análise às edições da Folha de S.Paulo anteriores ao golpe, os pesquisadores debruçaram-se sobre um material para contextualizar o período: um suplemento de 44 páginas, intitulado 64 – Brasil continua, publicado como encarte do jornal exatamente no dia do golpe, 31 de março de 1964, cujo conteúdo, afirma a pesquisadora Ana Paula Goulart “é repleto de anúncios e textos opinativos que evidenciam um claro protagonismo exercido pela Folha nas articulações golpistas e a forte sintonia político-ideológica do grupo com o empresariado local, nacional e internacional”. A pesquisa destaca que, nos dez primeiros anos do regime, o jornalismo da Folha também produziu significativas campanhas conclamando a população a “seguir com otimismo os preceitos da assim chamada ‘revolução democrática’ e assumiu um papel ativo no que foi denominado de ‘caça aos terroristas’”. A oposição armada, segundo o jornal, “ameaçava a soberania nacional e deveria ser combatida a partir de um esforço coletivo”. Na ocasião das comemorações de 50 anos da empresa, em 1971, a Folha afirmava se manter “profundamente identificada” com os rumos da nação, ao acompanhar “os esforços da Revolução de 64 para a reconstrução do Brasil”. Todos os jornais do grupo seguiram a linha editorial da Folha de apoio à ditadura. Mas nenhum teria chegado ao nível da Folha da Tarde em colaboração e subserviência ao regime militar, segundo depoimentos de jornalistas que trabalhavam no veículo consultados pela Pública. No dia 17 de abril de 1971, em sua manchete o jornal noticiou em letras garrafais: “Morto o assassino do industrial Boilesen”. O texto da chamada informava que no dia anterior, os órgãos de segurança interna, “agindo com rapidez identificaram no dia anterior” Joaquim Seixas como um dos participantes da execução de Boilesen, ocorrida dois dias antes. A notícia informava que, cercado pela polícia, Seixas reagiu e acabou sendo morto no tiroteio com a polícia. O problema é que no dia anterior vários presos viram Joaquim e Ivan, então com 16 anos, serem retirados do interior de uma viatura, espancados já no pátio da Oban e depois torturados. O jornal começou a circular na manhã do dia 17, mas Seixas só morreria em consequência de choques e espancamentos por volta das 19h do mesmo dia 17. À Pública, Ivan Seixas conta que viu, de dentro de uma viatura, a manchete num exemplar pregado à parede de uma banca de jornal em frente ao bar em que os policiais pararam para tomar café no retorno de uma simulação de seu próprio fuzilamento. “Quanto cheguei de volta à Oban, vi meu pai sentado na cadeira do dragão [assento de choque elétrico] sendo torturado, mas vivo”, conta o jornalista. A Folha da Tarde, segundo ele, pesava a mão contra a esquerda, mas ele faz questão de lembrar que outros jornais também publicavam falsas notícias produzidas pela polícia. As pesquisas indicam que a Folha da Tarde se tornou no período o veículo mais próximo dos órgãos de repressão, publicando em profusão, sem o menor filtro, versões oficiais que interessavam à polícia política. Isso ocorreu também com outros presos, como no caso envolvendo Eduardo Collen Leite, o Bacuri, da mesma ALN, detido em 21 de agosto de 1970 no Rio e levado para São Paulo, onde a equipe do delegado Sérgio Paranhos Fleury o matou em 8 de dezembro, depois de um longo calvário de torturas. A manchete de 9 de dezembro de 1970 não deixava dúvidas sobre a posição da Folha da Tarde. “Terror: Metralhado e morto outro fascínora”. Linha de frente da esquerda armada, o militante havia participado do sequestro de embaixadores que seriam trocados pela libertação de presos políticos, entre os quais estava sua mulher, Denise Crispim, grávida. A matéria informou que o “bandoleiro” morrera num confronto com a polícia em São Sebastião, no litoral Sul de São Paulo, embora seus companheiros de cárcere tenham protestado com gritos e muito barulho nas ferragens das grades quando ele foi retirado da cela em estado físico deplorável no dia 27 de outubro, dois dias depois de mais uma falsa notícia de que teria fugido. A Folha da Tarde se superava a cada edição na adjetivação, denominando militantes políticos de “facínoras”, “assassinos”, “maníacos” e “loucos”. Por mais que a família Frias tenha tentado separar a Folha da Tarde da linha que viria a ser adotada pela Folha a partir de 1974, a pesquisa mostra que, resguardada as peculiaridades de cada veículo, “havia uma direção editorial uniforme no interior do conglomerado jornalístico liderado pelos empresários Octavio Frias e Carlos Caldeira” no período. Além disso, o nome de Frias de Oliveira se destacava como diretor-presidente no cabeçalho da primeira página da Folha da Tarde. Um dos méritos da pesquisa da Unifesp foi reunir informações que estavam soltas em livros, jornais e testemunhas da época para demonstrar que os jornais do grupo estavam infestados de policiais atuando como jornalistas nas redações, ao menos 11, identificados pelos pesquisadores. O diretor da Folha da Tarde, no período, foi o jornalista Antônio Aggio Júnior que era, ao mesmo tempo, funcionário da Secretaria de Segurança Pública e, mais tarde, mas ainda no período repressivo, assessor de imprensa do delegado e ex-senador Romeu Tuma, braço direito de Fleury na área de informação do DOPS. Quando deixou a Polícia Civil para construir carreira e perfil novos na Polícia Federal, Tuma era diretor do departamento. Segundo a pesquisa, Aggio também teria se utilizado de um carro de reportagem da Folha para camuflar a entrada de conspiradores num quartel às vésperas do golpe de 1964. Repórter da Folha à época, ele teria usado aparelho de telex da sucursal da Folha no Rio para passar mensagens cifradas como senha do levante do II Exército em São Paulo, seguindo instruções do coronel Antônio Lepiane, chefe do Estado Maior da 2ª Companhia do Exército em São Paulo, que era seu padrinho e foi o comandante da OBAN quando esta foi criada, em 1969, no início do governo Emílio Garrastazu Médici. Aggio assumiu a direção de redação da Folha da Tarde em 1969 imprimindo uma mudança radical na linha editorial. Saíam de cena jornalistas progressistas, como Jorge Miranda Jordão e o frade dominicano Carlos Alberto Libânio Christo, o Frei Beto, ao mesmo tempo em que a redação contratava dois delegados, Carlos Antônio Guimarães Sequeira, agente do DEOPS, e Antônio Bim, os investigadores Carlos Dias Torres e Horley Antonio Destro, e um major da PM paulista, Edson Corrêa, que chamava a atenção por circular pela redação com uma pistola automática à mostra como se estivesse numa operação de rua. A linha do jornal, que antes cobria segmentos como o movimento estudantil, passou a ser de apoio irrestrito à ditadura militar e às forças de repressão. A combinação de comando e linha editorial levou o jornalista Claudio Abramo, ex-diretor da Folha, em seu livro de memórias, A Regra do Jogo, de 1988, a qualificar a Folha da Tarde como “o jornal mais sórdido do país”. Mais bem humorado, o jornalista Carlos Brickmann, que assumiu a redação ao lado de Adilson Laranjeiras em substituição ao grupo de Aggio, escreveu em tom de fina ironia que a grande conquista do novo comando foi ter conseguido “reduzir a tiragem do jornal”, uma alusão a expressão “tiras”, como eram chamados os policiais da época. Era também jocosamente qualificado como alusão “o jornal de maior tiragem”, como registraria Beatriz Kushnir em Cães de Guarda. A relação íntima entre polícia e jornalista não era, entretanto, exclusividade da Folha da Tarde. Outro periódico do grupo, o Notícias Populares, o sensacionalista NP, campeão de vendas em banca no período, era dirigido por Jean Mellé, anticomunista de carteirinha e notório entusiasta das Forças Armadas. Waldemar Ferreira de Paula, assistente de Jean Mellé, era policial. Armando Gomide, que substituiu Mellé depois da sua morte, em março de 1970, era policial e ligado ao Serviço Nacional de Informação (SNI). Sobre ele, segundo a pesquisa, pesava a suspeita dos próprios colegas de que “nas horas vagas” trabalhasse como agente secreto e informante dos militares. No Departamento de Interior, Correspondentes e Sucursais (Dics) do Grupo Folha o diretor era Paulo Nunes, que se dizia agente da PF. Na Agência Folha, que substituiu o Dics, o comando foi entregue em junho de 1972 a Luiz Carlos Rocha Pinto, delegado da Polícia Civil paulista contratado como jornalista, tornando-se no período o principal interlocutor entre a empresa e a censura. Depois de dez anos na Agência Folhas (departamento cujo nome depois perderia o “s”), Rocha Pinto foi transferido para o departamento de circulação, desligando-se do jornal só em 1995. Em 2005, ou seja, dez anos depois, ele continuava recebendo o mesmo salário, mas sem trabalhar. A pesquisa registra que a quem perguntava como conseguira tal privilégio, a resposta era lacônica: “sou herói de guerra”. A partir da retaliação da ALN, com sua inclusão na lista de “justiçáveis”, Frias mudou-se para o 6º andar do prédio que abrigava os jornais, na Alameda Barão de Limeira, Campos Elíseos, região central da capital e, segundo versão difundida pela Folha, conforme a pesquisa, passaria a contar com proteção de dois delegados do DOPS, os irmãos Robert e Edward Quass. A pesquisa mostra, no entanto, que a relação dos Quass com a Folha seria bem anterior à destruição dos carros pela ALN: Robert havia sido contratado em janeiro de 1961, antes, portanto de Frias comprar a empresa, mas não apenas como datilógrafo e recepcionista de noticiários como informou o jornal. Num comunicado interno encontrado nos arquivos do DOPS, o responsável pelo setor de transporte da Folha relata o furto de um dos veículos do grupo se referindo a Quass como auditor da empresa. Outros dois membros da família, Joseph Quass e Joseph Quass Filho, respectivamente, auxiliar de auditoria e auxiliar de escritório, ambos ligados diretamente à direção da Folha, haviam sido contratados em 1971 e 1970. Ainda de acordo com a pesquisa, os delegados passariam a fazer a segurança da família, cuidando, entre outras tarefas, da escolta dos dois filhos de Frias nas idas e voltas à escola, Otavinho e o atual diretor do grupo, Luís Frias. Contratado como chefe de segurança patrimonial da Folha, Edward passou a cuidar de todo o patrimônio do grupo e tinha uma sala dentro do jornal. A pesquisadora Ana Paula Goulart anota no relatório: “A presença de tais indivíduos atesta uma problemática relação de proximidade entre o Grupo Folha e agentes que cumpriam funções significativas na engrenagem repressiva da ditadura. A ameaça a Octavio Frias de Oliveira poderia justificar uma atenção especial por parte da Secretaria de Segurança do Estado de São Paulo, mas não explicava a contratação, com vínculo trabalhista e remuneração direta, de delegados do DEOPS para atuarem como funcionários da empresa jornalística”. O nome de outro agente, Messias Ayrton Scatena, carcereiro do DEOPS e jornalista que começou no grupo pelo jornal Última Hora surgiria num rumoroso caso que tramitou no Superior Tribunal Militar (STM), em 1973. Acusado de vazar informações sigilosas de operações contra a subversão para sua namorada, a também jornalista do grupo Helena Miranda de Figueiredo, Scatena chegou a ser preso. Em seu depoimento ele afirmou que além de trabalhar no Grupo Folha, “participava de serviços de repressão, combate a subversão e terrorismo”, tendo atuado entre cinco a dez diligências no período de três anos em que exerceu o cargo na delegacia”. O policial-jornalista dizia possuir, àquele momento, uma relação próxima com Octavio Frias de Oliveira e os membros de sua família, uma vez que ficou encarregado de trabalhar como seu motorista pessoal, além de atuar como segurança de seus filhos. Disse também que os diretores do jornal depositavam nele “grande confiança”, ao ponto de ter sido liberado da função de jornalista da empresa “para se dedicar integralmente à segurança da família […] sem prejuízo dos vencimentos”. De acordo com o documento, a contratação de Scatena foi recomendada pelo seu chefe, o delegado Edward Quass. É nesse depoimento, nas páginas 130 e 131 da ação penal 829/73 aberta pela justiça militar, que ele cita o nome do delegado Sérgio Fleury, afirmando que ele também atuava na segurança da Folha ao lado dos irmãos Quass. O que se sabia era que Fleury tinha sido visto algumas vezes na Folha, mas a justificativa é que era convidado de Aggio para algum evento festivo. A atenção de Frias aos militares ficaria clara também quando este, segundo a pesquisa, a pedido de um major de relações públicas do II Exército, que falava em nome do general Ernani Ayrosa da Silva, fundador da Oban, contratou como jornalista da Folha da Tarde um ex-militante da Vanguarda Popular Revolucionária (VPR), Rômulo Fontes, que durante os 18 meses em que permaneceu preso, entre 1979 e 1971, se tornou um dos arrependidos de participar da luta armada, prestando depoimentos contra a esquerda divulgados pela ditadura. Fontes conseguiu o emprego e depois confirmaria: “Entrei para a Folha manu militari”, conforme citação no livro de Pilagallo. A pesquisa aponta perseguição política e violação aos direitos trabalhistas contra jornalistas que trabalhavam no Grupo Folha e foram presos sob a acusação de participarem de organizações da luta armada. O caso mais emblemático é o da jornalista Rose Nogueira, que trabalhava como repórter da Folha da Tarde e, ao ser detida em casa no dia 4 de novembro de 1969, estava de licença maternidade 34 dias depois de um complicado parto em que deu à luz seu primeiro filho. Ela só descobriria anos depois que a demissão por justa causa, escrita à mão em sua ficha funcional, tinha sido por “abandono de emprego”, uma justificativa duplamente falsa, conforme relataria na entrevista concedida em maio de 2022 aos pesquisadores da Unifesp. “Foi uma das maiores dores da minha vida, ver que a Folha me deu abandono de emprego enquanto eu estava presa! Quem preso vai trabalhar no jornal? Quem, na licença maternidade vai? Eu estava com as duas coisas: licença maternidade e prisão. Eu senti como uma punição. A Folha me machucou muito. Eu já estava sendo punida. A Folha fica a duas quadras do DOPS. Alguém poderia ter ido lá saber se era verdade. Eles me ignoraram e publicaram o que a polícia mandou”, disse ela. A matéria da Folha da Tarde relacionava Rose e seu ex-marido, Luís Roberto Clauset, como pessoas próximas ao líder da ALN, Carlos Marighella, que havia sido executado pela polícia no mesmo dia em São Paulo e, em ocasiões anteriores, se refugiara na casa da jornalista. Ela não participava da luta armada, mas nunca negou que deu apoio logístico a Marighella. Ficou nove meses presa e, no final, acabou absolvida. Havia, no entanto, algo mais grave. “A Folha falseou a data do nascimento do meu filho. Meu filho nasceu em 30 de setembro de 1969. A Folha escreve (no ato de demissão) que meu filho nasceu em 9 de agosto (…) para me dar o abandono de emprego no começo de dezembro”, disse. Em outros casos, como o de José Maria Domingues dos Santos, que também trabalhava na Folha da Tarde e era acusado de ligações com a ALN, preso também em 04 de novembro de 1969, o jornal igualmente “antecipou” a data da demissão para o dia anterior para descaracterizar o vínculo com a empresa. A matéria sobre a prisão de Rose e José Maria informava no título que “Contra a subversão, polícia arma jogo de paciência”. A empresa sabia que as prisões tinham motivação política e ainda assim carimbou as demissões em suas fichas funcionais como “abandono” e “dispensado”, sem maiores explicações. No período, em 05 de novembro, foi preso o fotógrafo Carlos Penafiel, que trabalhava na Folha da Tarde, o que não evitou o tratamento policialesco da notícia sobre sua detenção: “Terror: prisão preventiva para jornalista implicado”, dizia o título da matéria, que também citava Rose e Luis Roberto como integrantes da ALN próximos a Marighella. Outros dois jornalistas da Agência Folha, Sérgio Gomes da Silva e José Vidal Pola Galé, presos em outubro de 1975 por ligações com o PCB, também amargaram meses de prisão, e tiveram seus nomes citados numa matéria de duas páginas de 23 de dezembro, com o título “DOPS arrasa bando do nazismo vermelho” onde o jornal divulgava uma lista de “comunistas” com idade, nome dos pais, data de nascimento, estado civil e endereço residencial completo dos suspeitos. Só que ignorava que trabalhavam no jornal ou no grupo. Preso entre 05 de outubro de 1975 e 05 de abril de 1976, Sérgio seria demitido em janeiro também por abandono de emprego enquanto esteve encarcerado. Solto, tentou reaver o emprego, mas diz ter sofrido assédio moral do então diretor da Agência, o delegado Luiz Carlos Rocha Pinto, e pressão do diretor do departamento pessoal do grupo, Antônio Pison, para que se demitisse. Os pesquisadores também apontam perseguição política da Folha na demissão de um grande número de jornalistas que participaram da greve de maio de 1979 por melhores salários. O SNI, que monitorou o movimento, informou que dos 128 demitidos de vários veículos, 43 eram do Grupo Folha, enquanto o Sindicato dos Jornalistas de São Paulo sustentou que na verdade teriam sido 64. A trajetória do grupo mostra, segundo os pesquisadores, que o apoio à ditadura teria proporcionado expansão e crescimento da Folha já no chamado milagre econômico, entre 1968 e 1973, período em que o jornal estaria mergulhado na mais intensa fase de colaboração com os militares. No final desse ciclo a Folha iniciava um tímido distanciamento para, em meados da década 1980, sob o comando do filho do dono, Otavinho, implantar o Projeto Folha, marcado por mudanças internas e uma guinada forte na linha editorial. Em 1984, o jornal engajou-se na linha de frente da campanha pelas Diretas-Já, estratégia que lhe rendeu o papel de protagonista e porta-voz dos anseios pela redemocratização do país. Não foi uma transição sem ruído: no dia 1º de setembro de 1977, um texto considerado ofensivo à imagem de Duque de Caxias, publicado pelo colunista Lourenço Diaféria forçou Octávio Frias de Oliveira, pressionado pelo então chefe da Casa Militar do governo, general Hugo Abreu, a pedir que seu então diretor de redação, o jornalista Cláudio Abramo, se demitisse para serenar uma das poucas crises registradas até então entre o jornal e a ditadura. O texto, “Herói. Morto. Nós.”, comparava um sargento que morreu ao se jogar num poço de ariranha para salvar um menino a uma estátua de Duque de Caxias, na qual populares urinavam, o que foi considerado uma ofensa punível com a prisão do jornalista e de fechamento do jornal caso a coluna continuasse sendo publicada em branco. Frias de Oliveira cedeu e, segundo anotam os pesquisadores, “decidiu afastar o chefe da redação Cláudio Abramo e tirar o seu próprio nome do cabeçalho do jornal”. Abramo foi substituído por Boris Casoy, escolhido por seu bom trânsito na área militar à época, conforme admite o próprio jornalista na entrevista aos pesquisadores. O relatório da Unifesp destaca que o jornal chegou ao fim da ditadura com identidade reformulada, o que permitiu que se tornasse o veículo impresso de maior circulação do país, alcançando um recorde de tiragem com mais de 1,5 milhão de exemplares. “Não se trata apenas de uma história de sucesso empresarial. Seu crescimento esteve estrategicamente ligado aos interesses do regime”, diz Ana Paula Goulart. Em 1974, entre o encerramento do governo Médici e início do mandato de Geisel, Frias de Oliveira foi chamado pelo general Golbery do Couto e Silva, eminência parda nos dois governos, para discutir o processo de distensão e, é claro, o crescimento da Folha diante de seu principal concorrente, o Estadão, algo que interessava ao regime. Naquele momento o lucro líquido da Folha havia dobrado em relação a 1973, e nos anos seguintes, até 1977, triplicaria, saltando, em valores da época, de Cr$ 47.564.807 para Cr$ 210.844.987, conforme balanços acessados pelos pesquisadores. Em valores atuais, pelo IGP-DI, o montante do lucro de 1977 equivale a mais de R$ 330 milhões. O material sobre a Folha com documentos e testemunhos faz parte de um relatório enviado ao Ministério Público Federal e que pretende servir de base para ações de reparação a vítimas da repressão na ditadura militar. “Um dos objetivos era reunir elementos, indícios e provas para que o MP pudesse abrir ações judiciais, inquéritos ou procedimentos administrativos contra essas empresas”, diz Edson Teles, coordenador do projeto pela Unifesp/Caaf. Procurado pela Agência Pública no dia 23 de junho, o superintendente do Grupo Folha, Carlos Ponce de Leon não quis dar entrevista. Pediu, através de sua secretária, que as perguntas fossem enviadas. As respostas chegaram apenas na tarde de sexta, 30 de junho. Dois dias depois, a Folha publicou “Documento abordará trajetória do Grupo Folha na ditadura”, em duas páginas do caderno “Ilustrada Ilustríssima” do domingo, 2 de julho. A matéria da Folha antecipou a posição do jornal em “resposta” a esta reportagem que ainda não havia sido publicada, procedimento estranho ao próprio manual da Folha e que não explica os questionamentos sobre os principais pontos da pesquisa da Unifesp abordados pela reportagem. Eis a íntegra da nota do Grupo Folha encaminhada à Pública: “Os temas das perguntas enviadas, que versam sobre um período já distanciado no tempo, deram ensejo a indagações parecidas no passado e hoje são objeto de uma investigação de historiadores, sob os auspícios do Ministério Público Federal, para a qual a Folha tem colaborado, franqueando aos pesquisadores amplo acesso à documentação remanescente que esteja em seu poder. Foram também objeto de extensa apuração empregada pelo próprio jornal, cujos resultados têm sido publicados em suas páginas e em livros nas últimas décadas. Embasado numa dessas apurações, por exemplo, o então diretor de Redação, Otavio Frias Filho, respondeu em 2018 ao blog do jornalista Fernando Morais sobre a acusação de que carros do jornal teriam sido utilizados pelo aparato de repressão da ditadura. Escreveu então: “Em 2011, solicitei que uma pesquisa exaustiva fosse realizada para esclarecer o episódio. Seus resultados constam do livro ‘Folha Explica a Folha’ (2012; págs. 49 a 61), da jornalista Ana Estela de Sousa Pinto. Não foram encontrados registros que comprovem essa utilização nem nos arquivos da ditadura, nem nos jornais clandestinos mantidos pela luta armada na época. A acusação se baseia no depoimento de dois militantes presos que afirmaram ter visto veículos do jornal no prédio do DOI-Codi (Vila Mariana, SP). Os atentados terroristas contra veículos da Folha, praticados pelo grupo ALN, ocorreram quatro dias depois da morte pela repressão do guerrilheiro Carlos Lamarca no interior da Bahia, sugerindo que o motivo do ataque foi a cobertura, bastante hostil, que a Folha da Tarde fez daquele fato. A Folha sempre afirmou que, se a cessão de veículos ocorreu, foi de forma episódica e sem conhecimento nem autorização de sua direção”. A Folha manterá a mesma disposição de publicar tudo o que saiba sobre essa época. GRUPO FOLHA”Atrelamento da linha editorial à ditadura
A manchete antecipada de um assassinato
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Folha e o “milagre”
Outro lado