O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, anunciou nesta sexta-feira planos para um lançamento aéreo militar de alimentos e suprimentos em Gaza, um dia depois que as mortes de palestinos que faziam fila para receber ajuda chamaram a atenção para uma catástrofe humanitária que se desenrola no enclave costeiro.
Biden disse que o lançamento aéreo ocorrerá nos próximos dias, mas não deu mais detalhes. Outros países, incluindo a Jordânia e a França, já têm realizado lançamentos aéreos de ajuda em Gaza.
Pelo menos 576.000 pessoas na Faixa de Gaza — um quarto da população do enclave — estão a um passo da fome, de acordo com o Escritório da ONU para a Coordenação de Assuntos Humanitários.
Autoridades de saúde de Gaza disseram que as forças israelenses mataram mais de 100 pessoas que tentavam chegar a um comboio de ajuda humanitária perto da Cidade de Gaza na quinta-feira, enquanto os palestinos enfrentam uma situação cada vez mais desesperadora após quase cinco meses de guerra, que começou com um ataque do Hamas a Israel em 7 de outubro.
Israel atribuiu a maior parte das mortes às multidões que se aglomeraram em torno dos caminhões de ajuda, dizendo que as vítimas foram pisoteadas ou atropeladas. Uma autoridade israelense também disse que as tropas haviam, “em uma resposta limitada”, disparado posteriormente contra multidões que consideravam uma ameaça.
Com as pessoas comendo ração animal e até cactos para sobreviver, e com os médicos dizendo que as crianças estão morrendo nos hospitais devido à desnutrição e à desidratação, a ONU disse que enfrenta “obstáculos esmagadores” para conseguir ajuda.
David Deptula, general de três estrelas aposentado da Força Aérea dos EUA, que já comandou a zona de exclusão aérea sobre o norte do Iraque, disse que os lançamentos aéreos são algo que as Forças Armadas dos EUA podem executar com eficácia.
“É algo que está bem em linha de suas missões”, disse Deptula à Reuters.
“Há muitos desafios… mas não há nada intransponível.”
ISRAEL ESTÁ “CIENTE” DO LANÇAMENTO AÉREO
Ainda assim, há dúvidas sobre a eficácia do lançamento aéreo de ajuda em Gaza.
Uma autoridade dos EUA, falando sob a condição de anonimato, disse que os lançamentos aéreos teriam apenas um impacto limitado sobre o sofrimento das pessoas em Gaza.
“Isso não lida com a causa principal”, disse a autoridade, acrescentando que, em última análise, somente a abertura das fronteiras terrestres poderia lidar com a questão de forma séria.
Outro problema, acrescentou a autoridade, é que os EUA não poderiam garantir que a ajuda simplesmente não fosse parar nas mãos do Hamas, já que os Estados Unidos não tinham tropas no local.
“Os trabalhadores humanitários sempre reclamam que os lançamentos aéreos são boas oportunidades para fotos, mas uma péssima maneira de entregar ajuda”, disse Richard Gowan, diretor do Grupo de Crise Internacional na ONU. Gowan disse que a única maneira de obter ajuda suficiente era por meio de comboios de ajuda que seguiriam uma trégua.
“É possível argumentar que a situação em Gaza agora é tão ruim que qualquer suprimento adicional pelo menos aliviará algum sofrimento. Mas essa é, na melhor das hipóteses, uma medida temporária de ajuda”, acrescentou Gowan.
Não ficou claro se o anúncio de Biden foi coordenado com Israel.
“Estamos cientes do lançamento aéreo humanitário”, disse uma autoridade israelense em Washington.
A autoridade, que falou sob a condição de anonimato, não respondeu a uma pergunta sobre se os EUA haviam solicitado antecipadamente a concordância de Israel sobre os lançamentos aéreos ou se estavam coordenando o esforço com o país.
A ONU entregou ajuda ao norte de Gaza sitiado pela primeira vez em mais de uma semana nesta sexta-feira, disse o Escritório da ONU para a Coordenação de Assuntos Humanitários. A ONU entregou medicamentos, vacinas e combustível ao hospital al-Shifa, na Cidade de Gaza.
O Programa Mundial de Alimentos disse há 10 dias que estava interrompendo as entregas de ajuda alimentar ao norte de Gaza até que as condições no enclave palestino permitissem uma distribuição segura.
A agência de refugiados palestinos da ONU, UNRWA, disse nesta sexta-feira que, em fevereiro, uma média de quase 97 caminhões conseguiu entrar em Gaza por dia, em comparação com cerca de 150 caminhões por dia em janeiro, acrescentando: “O número de caminhões que entram em Gaza continua bem abaixo da meta de 500 por dia”.
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