A capital irlandesa foi, na noite dessa quinta-feira (23), palco de violentos confrontos que resultaram em 34 detenções. Em causa está um ataque com faca que deixou cinco pessoas feridas, incluindo três crianças. As autoridades falam num episódio sem precedentes nas últimas décadas, associando os confrontos a “uma fação completamente lunática guiada pela ideologia de extrema-direita”.
“O que vimos ontem à noite foi uma extraordinária explosão de violência, com cenas a que não assistíamos há décadas”, afirmou o chefe da polícia irlandesa, Drew Harris, em entrevista coletiva.
“No total, foram detidas 34 pessoas, 32 das quais vão comparecer ao tribunal já nesta manhã”, adiantou, acrescentando que um agente da polícia ficou gravemente ferido nos protestos.
Além das agressões, vários veículos foram incendiados e pelo menos uma loja foi saqueada no centro da capital irlandesa, com alguns manifestantes lançando foguetes e fogo de artifício.
As autoridades formaram um cordão humano em torno do Parlamento. No total, foram mobilizados mais de 400 agentes para conter os protestos pela cidade.
“Não poderíamos ter previsto” tamanha violência, disse Drew Harris, acrescentando que pelo menos um “elemento radical” está entre os autores dos distúrbios e culpando o discurso de ódio e desinformação nas redes sociais para a escalada de violência. “Os grupos de extrema-direita agravaram a situação”, declarou.
Segundo o chefe da polícia irlandesa, “uma facção completamente lunática, guiada pela ideologia de extrema-direita”, esteve por trás dos protestos.
A polícia não exclui qualquer motivação para o ataque.
Na origem dos confrontos está um ataque, nessa quinta-feira, em uma rua do centro da cidade. Três crianças e uma mulher foram esfaqueadas, e a polícia prendeu um suspeito de 50 anos.
Tanto a mulher, de cerca de 30 anos, quanto uma menina de 5 anos e o suspeito do ataque ficaram com ferimentos graves. Mais dois menores, um menino de 5 anos e uma menina de 6, tiveram ferimentos ligeiros. Um deles já teve alta.
O episódio ocorreu do lado de fora da escola Gaelscoil Choláiste Mhuire. As autoridades disseram que vão investigar todas as causas possíveis. Inicialmente, um agente tinha dito que “não houve ligação com o terrorismo”. Mais tarde, porém, o chefe da polícia afirmou que não exclui qualquer motivação para o ataque.
“Um indivíduo foi detido e não estamos em busca de mais envolvidos no incidente neste momento, mas a investigação vai, obviamente, se desenvolver”, disse Drew Harris.
O que pedem os manifestantes
Em momento de crise imobiliária no país, várias figuras de extrema-direita têm aproveitado o tema da imigração para culpar essas pessoas, argumentando que “a Irlanda está cheia”. O bairro onde se concentraram os protestos da última noite é habitado por vários imigrantes.
Os manifestantes focaram o discurso, precisamente, em convicções anti-migratórias, segurando cartazes com o lema Irish Lives Matter (em referência ao movimento antirracista Black Lives Matter) e agitando bandeiras da Irlanda.
Jornalistas que tentaram entrevistar manifestantes durante os protestos chegaram a ser ameaçados. Vários dos participantes acusaram veículos de imprensa de não dizer a verdade em relação à imigração. Tanto a polícia quanto vários políticos pediram calma aos manifestantes e alertaram para a desinformação em torno do ataque.
O presidente da Irlanda, Michael Higgins, afirmou que “o incidente terrível é assunto para a polícia, e o fato de estar sendo usado por grupos com uma agenda que ataca os princípios da inclusão social é repreensível e merece condenação por todos aqueles que acreditam no Estado de Direito e na democracia”.
A ministra da Justiça, Helen McEntee, considerou os episódios de violência “intoleráveis” e afirmou que “não se deve permitir que elementos violentos e manipuladores usem uma tragédia para provocar estragos”.
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