Em votação no Congresso Nacional, o Projeto de Lei 2630/2020 – conhecido como PL das Fake News – prevê regulação de conteúdos publicados em redes sociais e outras plataformas digitais.
Um grupo de pesquisadores, comunicadores populares e sindicais defende que é preciso ir além: repensar toda a estrutura econômica que permite a concentração de riqueza nas mãos das big techs, as grandes empresas de tecnologia que controlam o mercado digital.
O assunto foi um dos destaques do 4º Festival da Comunicação Sindical e Popular, realizado nessa segunda-feira (24) na Cinelândia, no Rio de Janeiro. Os debatedores indicaram a importância de regulação e construção de políticas públicas no âmbito da economia digital. Uma das preocupações é descentralizar o controle e exploração dos dados gerados quando uma pessoa usa os espaços virtuais.
“É uma luta contra a concentração de capital. Os dados são o grande ouro dos tempos atuais, então precisamos ter esse entendimento que enfrentamos grandes monopólios. E eles lucram muito com a nossa atenção e o nosso tempo”, disse Viviane Rosa, jornalista e coordenadora do Intervozes.
“Quando pensamos nos dados, tudo é potencialmente transformado em riqueza. Essa concentração brutal de riqueza na mão de poucos conglomerados, de forma mais intensa do que existe em relação à mídia tradicional, precisa ser diminuída. Temos que repensar a construção dos espaços da internet como efetivamente livres e responsáveis, onde haja transparência nas relações entre os diferentes atores. Que não tenhamos que ficar à mercê da construção de uma riqueza do qual não participamos”, afirmou Adilson Cabral, jornalista e professor da Universidade Federal Fluminense (UFF).
Comunicação nas periferias
O festival – promovido pelo Núcleo Piratininga de Comunicação (NPC) – também teve uma mesa de debate sobre a produção de conteúdo e informação nas favelas e periferias. Em lugares marginalizados, com atuação insuficiente do poder público e pouca atenção da mídia tradicional, as próprias comunidades criam meios de informar e engajar na luta por condições adequadas de vida.
É o caso do Jornal Maré de Notícias, fundado em 2009 no Complexo de favelas da Maré, no Rio, que conta tanto com uma versão impressa quanto online.
“A gente existe para mobilizar o morador para conseguir melhorar aquele ambiente. Quando a gente digita Maré nas ferramentas de pesquisa da internet, a comunidade aparece como sinônimo de violência. Mas a Maré não é isso. Se você for lá, vai perceber que é uma potência. É uma comunidade que cria, mesmo quando o poder público não atua”, avaliou o repórter Hélio Euclides.
A assistente social Ana Maria Leone comanda um programa na Rádio Ativa, de Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, desde 2019. O trabalho dela como comunicadora é o de discutir políticas públicas e sociais por meio de entrevistas.
Também há espaço para divulgação de iniciativas culturais e artísticas. Ana explica que, antes de ser uma voz ativa na defesa para transformar a comunidade, precisou mudar o próprio jeito como se via. “Eu quase nem falava. E achava que era tímida. Hoje, eu sei que era uma mulher silenciada por vários motivos. E a gente acha que não tem conteúdo, que é inferior em relação a outras pessoas e se cala. Quando, na verdade, a gente tem muito para contribuir com as pessoas”, finalizou Ana.
Edição: Kleber Sampaio