Cerca de 15 mil palestinos fugiram do norte para o sul de Gaza nos últimos quatros dias, desde que se intensificaram os combates no território e Israel estabeleceu um corredor de saída, informou nesta quarta-feira (8) a Organização das Nações Unidas (ONU).
O número que consta no relatório diário da ONU sobre a situação é três vezes superior às estimativas do dia anterior e indica que está aumentando o deslocamento, principalmente de crianças, idosos e pessoas com deficiência, de acordo com dados do Gabinete de Coordenação dos Assuntos Humanitários da organização.
“Estão chegando a pé, com poucos pertences”, disse a ONU, acrescentando que algumas das pessoas deslocadas testemunharam detenções pelas forças israelenses nos postos de controle de retirada.
O número de deslocados em Gaza ultrapassa 1,5 milhão (mais de dois terços da população de 2,2 milhões), dos quais 725 mil estão alojados em instalações da ONU, 122 mil em hospitais, igrejas e outros edifícios públicos, 131 em escolas não pertencentes à ONU e o restante em casas de familiares.
Cerca de 160 mil dos deslocados permanecem em abrigos no norte de Gaza, a área mais afetada pelos combates, onde a Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina no Oriente Médio (UNRWA) já não consegue chegar com ajuda humanitária ou ter informações sobre a situação, destacou o relatório.
A ONU insiste que muitos deslocados se encontram em condições de superlotação: a situação é particularmente alarmante nas instalações em Khan Younis (sul de Gaza), onde 22 mil refugiados têm apenas dois metros quadrados de espaço cada um e há apenas uma casa de banho para cada 600 pessoas.
O relatório voltou a denunciar os ataques nas imediações dos centros médicos, que ocorreram ontem junto ao Hospital Indonésio e ao Kamal Odwan, ambos no norte de Gaza, deixando vários mortos e danos em edifícios e equipamentos.
A ONU sublinhou que as autoridades israelitas continuam a ordenar a evacuação do Hospital de Rantisi, na capital de Gaza, a única unidade pediátrica no norte da Faixa, onde estão abrigadas 6.000 pessoas deslocadas.
O Ministério da Saúde de Gaza afirmou que a evacuação do hospital coloca em risco a vida de dezenas de crianças, incluindo 38 que necessitam de diálise e dez que estão ligadas a ventiladores.
“Os hospitais do norte realizam operações complexas, incluindo amputações, sem anestesia”, disse a ONU, para ilustrar a situação no território.
Pelo menos 192 profissionais de saúde morreram no conflito que começou há um mês, incluindo 16 que estavam em serviço. O número de funcionários da ONU mortos (empregados pela UNRWA) subiu para 89, de acordo com o Ministério da Saúde de Gaza.
Em 7 de outubro, o movimento islamita Hamas lançou um ataque surpresa contra o sul de Israel, com o lançamento de milhares de foguetes e a incursão de milicianos armados, fazendo duas centenas de reféns.
Em resposta, Israel declarou guerra ao Hamas, que controla a Faixa de Gaza desde 2007 e é classificado como terrorista pela União Europeia e pelos Estados Unidos, bombardeando várias infraestruturas do grupo. Impôs um cerco total ao território, com corte de abastecimento de água, combustível e eletricidade.
O conflito já deixou milhares de mortos e feridos, entre militares e civis, nos dois territórios.
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