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Cadastro Ambiental Rural: sobreposição de registros em terras públicas expõe fragilidades na gestão ambiental, aponta estudo

foto de um indígena em MT

Dados da “3ª edição do Panorama do Código Florestal“,  realizado pelo Centro de Sensoriamento Remoto (CSR) da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), apontam que o Cadastro Ambiental Rural (CAR), criado como ferramenta essencial para o planejamento ambiental no Brasil, enfrenta desafios críticos em 2024. A pesquisa indica que 18,3% dos registros realizados no sistema sobrepõem-se a terras públicas não cadastráveis, como unidades de conservação e terras indígenas. Essa fragilidade expõe o sistema a grilagem e ocupações ilegais, comprometendo a governança ambiental e a proteção das populações tradicionais.

A sobreposição é agravada pelo fato de o CAR operar com base em autodeclarações, permitindo que informações fraudulentas sejam validadas. Segundo um relatório do Climate Policy Initiative (CPI), apenas 3,3% das análises do CAR foram concluídas desde a sua criação, em 2012, evidenciando a lentidão no processo de regularização fundiária.

Impactos ambientais e sociais

Os efeitos dessa sobreposição são alarmantes. Terras indígenas e unidades de conservação, essenciais para a biodiversidade e a preservação de biomas ameaçados, enfrentam riscos crescentes. A conversão de terras públicas para atividades econômicas ilegais prejudica ainda mais os compromissos ambientais internacionais do Brasil, como o Acordo de Paris. Na Amazônia, o impacto é ainda mais significativo, ameaçando a meta de descarbonização e a integridade dos ecossistemas globais.

Além disso, a ausência de fiscalização adequada dificulta a proteção das terras e deixa as populações tradicionais vulneráveis. A falta de ação coordenada entre governos e órgãos reguladores reforça a necessidade urgente de mudanças estruturais.

Tecnologia e governança como solução

Para reverter esse cenário, o uso de tecnologias avançadas é indispensável. Ferramentas como o CAR 2.0 e plataformas de análise, como o SeloVerde, têm mostrado eficiência no diagnóstico e correção de irregularidades. Essas soluções utilizam inteligência artificial e sensoriamento remoto, melhorando a precisão e a transparência nos processos de validação.

Entretanto, especialistas apontam que o avanço tecnológico deve ser acompanhado por esforços institucionais para integrar dados de sistemas como o SIGEF e o INCRA. Além disso, é essencial intensificar a fiscalização e punir os responsáveis por registros fraudulentos. Somente com governança sólida será possível equilibrar a produção agrícola com a preservação ambiental.

O aumento da sobreposição de registros no CAR acende um alerta sobre as falhas estruturais do sistema. Enquanto ferramentas tecnológicas avançam no diagnóstico, é essencial fortalecer políticas públicas e intensificar a fiscalização para garantir a proteção dos recursos naturais e os direitos das populações tradicionais. A credibilidade do CAR e um futuro sustentável para o Brasil dependem de ações coordenadas e imediatas.

Desafios ambientais em Mato Grosso: dados do cadastro ambiental rural e impactos no Estado

Contexto geral e dados do CAR em Mato Grosso

O estado de Mato Grosso, com uma área total de 90,3 milhões de hectares, enfrenta desafios significativos em relação ao Cadastro Ambiental Rural (CAR) e à preservação ambiental. Segundo os dados apresentados:

  • Registros do CAR: São mais de 164.449 registros, abrangendo entre 70,5 e 57,6 milhões de hectares, evidenciando a relevância do sistema no planejamento ambiental do estado.
  • Vegetação Nativa Remanescente: Cerca de 52% da área estadual ainda possui vegetação nativa remanescente, o que é vital para a conservação da biodiversidade.
  • Áreas Consolidada e de Proteção: Enquanto 47% da área total é consolidada para uso agrícola e pecuário, apenas 0,6% é composta por massas d’água.

Déficit de áreas de preservação e reserva Legal

O balanço do CAR revela problemas preocupantes relacionados às Áreas de Preservação Permanente (APPs) e às Reservas Legais (RLs):

  • Déficit em APPs: A falta de proteção em APPs está estimada entre 384 e 314 mil hectares, expondo riscos às áreas críticas para o equilíbrio ambiental.
  • Déficit e excedente de reservas legais:
    • Déficit: Entre 5,31 e 4,42 milhões de hectares precisam ser restaurados ou compensados para atender à legislação.
    • Excedente: Por outro lado, existe um excedente de 7,35 a 5,54 milhões de hectares, que poderia ser utilizado para compensações ambientais.

Impacto do desmatamento Pós-2008

Desde 2008, o desmatamento em Mato Grosso agravou os desafios ambientais. Os dados indicam:

  • Desmatamento total: Entre 3,8 e 2,8 milhões de hectares foram desmatados em Áreas de Preservação Permanente (APPs) ou em Reservas Legais abaixo do mínimo exigido pela legislação.
  • Percentual impactado: Cerca de 41% desse desmatamento ocorreu em áreas que deveriam ser protegidas.

Soluções e Perspectivas

Diante desses desafios, Mato Grosso tem potencial para se tornar um modelo de equilíbrio entre desenvolvimento agrícola e preservação ambiental. Soluções tecnológicas, como o CAR 2.0 e plataformas de monitoramento como o SeloVerde, podem auxiliar no diagnóstico e regularização das áreas impactadas. Além disso, o estado pode investir no uso sustentável do excedente de Reservas Legais para compensar áreas deficitárias, reforçando seu compromisso com a preservação ambiental e a mitigação das mudanças climáticas. Essa abordagem integrada, aliada a uma governança ambiental robusta e maior fiscalização, é essencial para restaurar a credibilidade do CAR e garantir o cumprimento de metas nacionais e internacionais de preservação ambiental.

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