Ao analisar os ataques criminosos da segunda-feira (23), na zona oeste do Rio de Janeiro, o secretário executivo do Ministério da Justiça e Segurança Pública, Ricardo Cappelli, classificou de muito grave a situação na cidade. Ontem, 35 ônibus foram queimados e uma cabine de um trem, que partia de Santa Cruz, foi incendiada. Seis estações chegaram a ser fechadas, o que gerou caos no setor transportes.
Os atos violentos foram em represália à morte, durante uma operação policial, do miliciano Matheus da Silva Rezende, o Faustão, considerado pela polícia o número 2 de um desses grupos da capital.
“Situação muito grave, facções criminosas desafiando o Estado Democrático de Direito, paralisando uma parte da cidade, colocando fogo no transporte público. É uma clara ameaça à autoridade do Estado uma situação inaceitável”, disse Cappelli, após participar do 17º Encontro Nacional de Repressão a Drogas, Armas, Crimes contra o Patrimônio e Facções Criminosas (Siren), no Hotel Vila Galé, no centro do Rio. O encontro reunirá até sexta-feira (27) policiais federais de todo o país, representantes das Forças Armadas e do setor de segurança de embaixadas.
Avaliação
Nesta tarde, Cappelli participa de uma reunião na Superintendência da Polícia Federal no Rio de Janeiro, para avaliar o desempenho das forças federais de segurança na primeira semana de atuação no estado. “A gente fez a movimentação de homens e equipamentos para cá na semana passada. Hoje à tarde, a gente faz a primeira reunião”, explicou o secretário.
Segundo Cappelli, mesmo com os ataques de ontem, ainda é cedo para reformular o planejamento feito para a atuação de forças federais no estado. “A gente está completando uma semana do início do nosso reforço no Rio de Janeiro, então é cedo para rever um planejamento que ainda está em curso. A gente vai fazer a primeira reunião de monitoramento. Esta semana acabam de chegar os homens da Polícia Federal com tecnologia e equipamentos. Está cedo ainda. Não tem uma semana. Claro que o que aconteceu ontem é gravíssimo, e isso a gente leva em conta no planejamento que está construindo e que vai avaliar hoje”, completou.
O secretário informou que já está sendo reforçado o sistema de inteligência da Polícia Federal no Rio para que, em conjunto com as forças de segurança do estado, possa ser desvendada a atuação do crime organizado. “Alguns homens já foram deslocados na semana passada, outros vão chegar nesta semana. Nós estamos buscando analistas da Polícia Federal de larga experiência e trabalhos exitosos já realizados aqui para o Rio de Janeiro, com equipamentos e tecnologia para que se possa desbaratar e enfrentar o crime organizado no Rio de Janeiro.”
Para Cappelli, o reforço na inteligência da Polícia Federal poderá contribuir para a prisão dos três chefes das maiores milícias do estado, conforme tem sido defendido pelo governador do Rio, Cláudio Castro, como forma de dar um golpe no crime organizado. “A Polícia Federal tem muitas informações sobre as organizações criminosas do Brasil e em especial do Rio de Janeiro. Ela tem atuado junto com a Polícia Civil, e tenho certeza de que essas informações podem ajudar a chegar nessas lideranças.”
A transferência de presos envolvidos em atos violentos no Rio para presídios federais já está acertada entre o Executivo fluminense e o Ministério da Justiça. “Não há limite da parte do governo federal quanto à transferência de presos. [Para] todos os presos que o governo do estado solicitar transferência para presídios federais, [os pedidos] serão atendidos”, afirmou.
Intervenção descartada
De acordo com o secretário, não está na pauta uma intervenção federal na segurança pública do estado. “Nesse momento, apostamos no SUSP [Sistema Único de Segurança Pública]. Apostamos no fortalecimento das relações interfederativas. Cada estado tem o seu papel. O policiamento ostensivo é responsabilidade do estado.”
Se o efetivo da Polícia Federal e o da Polícia Rodoviária Federal forem somados com a Força Nacional, o resultado daria praticamente a metade dos homens apenas da Polícia Militar do Rio de Janeiro. “Então, por isso, cabe aos estados o policiamento ostensivo. É assim que preconiza a Constituição, e a nossa aposta é no fortalecimento da relação interfederativa. O estado faz a sua parte, e o governo federal cuida das questões que lhe dizem respeito, principalmente a inteligência, o planejamento e a investigação da Polícia Federal, e a presença da Polícia Rodoviária Federal com apoio da Força Nacional nas rodovias.”
“Acreditamos no trabalho de inteligência para desbaratar essas organizações criminosas, essas facções, descapitalizando-as, seguindo o dinheiro e bloqueando os bens dessas organizações e fazendo apreensões de armas, como a que a Polícia Federal fez recentemente, em que 47 fuzis foram encontrados em uma mansão na Barra da Tijuca. Este é o trabalho [em] que a gente acredita, de inteligência e planejamento com a Polícia Federal”, afirmou.
Além disso, há um reforço no trabalho ostensivo com a vinda para o Rio de 250 agentes da Polícia Rodoviária Federal e 300 homens da Força Nacional, 86 viaturas no apoio das ações da PRF. “Como sempre disse, não tem solução mágica, não tem bala de prata. É trabalho, trabalho e trabalho. É planejamento e inteligência com o trabalho liderado pela Polícia Federal.”
Para o secretário, a responsabilidade pelo policiamento ostensivo é do governo do estado do Rio de Janeiro, que tem absoluta autonomia para tomar iniciativas referentes às polícias Civil e Militar. Cappelli disse que é possível atuar de forma integrada, mas ressaltou que existem operações próprias da Polícia Federal, assim como tem as polícias do estado, o que é natural.
Ele considerou irrelevante questionar se a Polícia Federal soube com antecedência da operação que resultou na morte do miliciano e nos atos violentos na cidade. “Não existe subordinação entre o governo federal e o governo do estado. Assim como a Polícia Federal faz operações próprias aqui no estado do Rio sem avisar às forças estaduais de segurança, é absolutamente natural que as forças estaduais façam também operações próprias”, enfatizou.
Sobre a possibilidade de haver instabilidade política após troca de secretários na Polícia Civil e se isso atrapalharia a comunicação entre as instituições para o sucesso do combate ao crime organizado, Cappeli disse que a nomeação de qualquer secretário cabe apenas ao governador. “Não cabe ao governo federal tecer qualquer comentário sobre isso.”
Depois de participar do 17º Siren, Cappelli visitou a empresa de armas Condor, em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, para verificar o sistema de chips instalado nos equipamentos fabricados pela companhia. “Todas as armas deles têm chips e ficam rastreadas por cinco anos. Quero ver como isso funciona porque pode servir para a gente fazer um debate de colocar isso em todas as armas, não só nas não letais. A gente evita o desvio de armas. Vamos conhecer primeiro a tecnologia e ver como funciona e depois vamos discutir se o governo adota para si”, afirmou.
A agenda do secretário prevê ainda encontro com o governador Cláudio Castro. Com o prefeito do Rio, Eduardo Paes, não há encontro previsto, mas, segundo Cappelli, as conversas entre os dois têm sido frequentes.
Edição: Nádia Franco