Pesquisar
Close this search box.

Etnoturismo e Aviturismo: cultura e sustentabilidade indígena

Etnoturismo e Aviturismo: Cultura e Sustentabilidade Indígena

 

O que é etnoturismo e aviturismo?

 

O etnoturismo é uma modalidade de turismo que se concentra na interação respeitosa e imersiva com comunidades tradicionais, oferecendo aos viajantes a oportunidade única de conhecer culturas autênticas e modos de vida singulares. Ao participar de experiências etnoturísticas, os viajantes não apenas ampliam seus horizontes culturais, mas também contribuem para o fortalecimento econômico e social das comunidades visitadas.
Este tipo de turismo sustentável enfatiza a importância de valorizar e preservar a diversidade cultural, promovendo um intercâmbio genuíno e enriquecedor entre turistas e moradores locais. Além disso, o etnoturismo é uma ferramenta poderosa para o empoderamento das comunidades brasileiras, permitindo que elas compartilhem seu patrimônio cultural e natural de forma sustentável.

2024 08 26, terra Guató, Aterradinho, Barão de Melgaço, Mato Grosso, Pantanal, Brasil:colhereiros em voo.Foto: Rogerio Florentino/SUMAUMA

O aviturismo, como um segmento do turismo ecológico, é uma atividade que envolve lazer, pesquisa científica, atividade econômica, conservação e educação ambiental em suas diversas formas. Embora o turismo de observação de aves (Bird-watching tourism or avitourism) na natureza seja praticado há décadas em países do hemisfério norte, apenas em anos recentes vem se desenvolvendo no Brasil. Os observadores de aves também conhecidos como birdwatchers ou birders tornaram-se o maior grupo de observadores da vida silvestre do planeta, sendo o que mais cresce setorialmente no mundo. Estima-se que cerca de 100 milhões sejam praticantes de observação de aves no mundo, gerando cerca de 90 bilhões de dólares por ano.

Essas atividades se complementam. Como destacou Dalci Maurício Miranda de Oliveira, professor aposentado da UFMT e consultor na área ambiental, “o aviturismo pode ser realizado dentro do contexto do etnoturismo, aproveitando não apenas a fauna, mas também os saberes dos povos indígenas sobre as aves”.

Professor Doutor Dalci Maurício Miranda de Oliveira e Raquel Ràjkà Kanela, Indígena da Etnia Kanela. , mestranda em estudos interculturais pela FAINDI. Foto: Rogério Florentino

A importância da observação de aves em terras indígenas

 

O estudo Etnoconhecimento e Sustentabilidade: Aviturismo de Dalci Oliveira examina a relação entre preservação ambiental e turismo sustentável em terras indígenas. Segundo ele, “a observação de aves nessas áreas não só contribui para a conservação das , mas também fortalece a transmissão do conhecimento ecológico tradicional”.

2024 08 26, terra Guató, Aterradinho, Barão de Melgaço, Mato Grosso, Pantanal, Brasil:ninho de tuiuiu com filhote.Foto: Rogerio Florentino/SUMAUMA

2024 08 26, terra Guató, Aterradinho, Barão de Melgaço, Mato Grosso, Pantanal, Brasil:ninho de tuiuiu com filhote.Foto: Rogerio Florentino/SUMAUMA

Além disso, a prática do aviturismo pode ser um vetor para o reconhecimento dos direitos territoriais indígenas, ao demonstrar o valor dessas áreas para a biodiversidade global. Dalci destaca ainda que “o envolvimento das comunidades indígenas na gestão do aviturismo é essencial para garantir que os benefícios econômicos sejam distribuídos de forma equitativa e respeitem as tradições culturais locais”.

Etnoturismo como alternativa de sustento e fortalecimento cultural

O papel do etnoturismo na valorização cultural e econômica

 

Raquel Ràjkà Kanela, Indígena da Etnia Kanela, mestranda em estudos interculturais pela FAINDI (Faculdade Indígena Intercultural) e professora orientadora no projeto Saberes, conhecida como Éica Canela / Merrin Canela, da etnia Canela (Megui), vê o etnoturismo como uma ferramenta poderosa para fortalecer a identidade indígena e gerar renda sustentável. Para ela, “a troca de saberes entre indígenas e não indígenas, quando bem estruturada, pode promover um entendimento mais profundo sobre a cultura ancestral e suas práticas sustentáveis”.

Deonísio Tsôutuâmore da Etnia A’uwe Uptabi (Xavante), estudante de gestão ambiental na FAINDI, vereador em Campinápolis e membro da etnia Itiavante, também enxerga o etnoturismo como “uma alternativa para o futuro e uma maneira de obter benefícios para a comunidade”.

Vereador indígena Deonísio Tsôutuâmore da Etnia A’uwe Uptabi (Xavante). Foto: Rogério Florentino.

Gestão participativa e benefícios econômicos

 

O estudo Etnoturismo na Aldeia Ponte de Pedra, de Adileide Souza Pereira e colaboradores, destaca que a participação das lideranças indígenas no planejamento das atividades turísticas é essencial para evitar impactos negativos sobre o modo de vida tradicional e garantir que os benefícios econômicos alcancem toda a comunidade.

A doutora em antropologia Eliane Boroponepá Monzilar, coordenadora da área de ciências sociais na FAINDI, da etnia Balatiponé Mutina, destaca que “o etnoturismo traz à tona saberes tradicionais, divulga a cultura indígena e promove interações interculturais”. Além disso, essa atividade pode contribuir para a sustentabilidade das famílias, melhorando sua qualidade de vida.

Professora Eliane Boroponepá Monzilar. Foto: Rogério Florentino.

Experiências de sucesso nas aldeias indígenas

O modelo da Aldeia Wazare e outras referências

 

A Secretaria de Estado de Desenvolvimento Econômico (Sedec) realizou em 2024, um Mapeamento do Etnoturismo em Mato Grosso, apontando que no Estado 19 etnias das 40 que foram mapeadas nos polos Araguaia, Cerrado, Amazônia e Pantanal praticam atividades turísticas em seus territórios. São os povos Apiaka, Aweti, Bakairi, Cinta-larga, Enawene Nawe, Haliti-Pareci, Ikpeng, Kalapalo, Kamayurá, Karajá, Kawaiwete, Kuikuro, Mebengokre, Nafukua, Paresi, Wuajá (Wauará), Kayabi, Xavante e Yawalapiti.

O secretário adjunto de Turismo, Felipe Wellaton, apontou que a obtenção do Plano de Visitação junto a Fundação Nacional do Índio (Funai), exigido pela Instrução Normativa 03/2015 do órgão, tem sido um desafio. A aprovação dele é necessária para regularizar a visitação com fins turísticos nas Terras Indígenas. Contudo, a morosidade é grande e algumas comunidades permanecem trabalhando com o turismo, mesmo irregulares.

O Estado tem sete aldeias localizadas nos municípios de Alta Floresta, Gaúcha do Norte, Querência, Matupá e Peixoto de Azevedo tem o plano de visitação e estão regulares; 8 aldeias possuem o plano de visitação, porém não houve a renovação e outras 6 aldeias já solicitaram o plano de visitação e aguardam aprovação dos projetos por parte da Funai.

“Quando se fala em turismo a gente tem que responder três perguntas: onde eu vou comer? Onde eu vou me hospedar? E o que eu vou fazer? Isso dentro território ainda mais delicado, pois não pode ter entrada de bebida alcoólica é preciso o Plano de Visitação aprovado na Funai, tem toda uma série de limitações de organização, mas é necessário desenvolver produtos com qualidade e com critérios”, afirmou o secretário.

Ele também destacou que o etnoturismo tem um grande apelo. Tanto que as peças indígenas são as mais procuradas nas feiras nacionais, que o Estado participa. Ao todo são 171 artesãos indígenas mato-grossenses inscritos no Programa de Artesanato Brasileiro (PAB), sendo 106 mulheres. Um dos principais produtos vendidos são os bancos de madeira.

O estudo de Adileide Souza Pereira e colaboradores menciona a Aldeia Ikpeng como um exemplo bem-sucedido de etnoturismo. Segundo ele, “os Ikpeng implementaram um modelo de turismo cultural que inclui trilhas ecológicas guiadas, apresentações de canto e dança, além da explicação sobre a história e cosmologia do povo”.

Outro caso de destaque é a experiência dos Xavante na Aldeia Pimentel Barbosa, que estruturou um turismo de imersão, permitindo que visitantes acompanhem o cotidiano indígena, participem de rituais e aprendam sobre o manejo sustentável do cerrado.

O povo Cinta Larga também obteve bons resultados com o etnoturismo, construindo uma casa tradicional para receber visitantes e compartilhar danças, culinária e manifestações culturais. “É uma forma de mostrar que nossa cultura está viva e de incentivar os jovens a praticá-la”, explica Henrique Cinta Larga, estudante de licenciatura intercultural na FAINDI.

Desafios e regulamentação do etnoturismo

 

Apesar dos benefícios, o etnoturismo enfrenta desafios como geração de lixo, interferências culturais e expectativas divergentes entre indígenas e visitantes.

Wellington Pedrosa Quintino, professor da UNEMAT, explica que a universidade foi solicitada a realizar um estudo para normatizar e regulamentar o etnoturismo em terras indígenas do Mato Grosso. A equipe envolvida no projeto era composta por um especialista em turismo de Nova Xavantina, um geógrafo de Nova Xavantina, um linguista (o próprio Wellington), um geógrafo de Cáceres e um advogado especialista em legislação indígena. “O objetivo principal desse estudo era produzir uma proposta que se transformaria em um projeto de lei para o estado”, afirma.

Dr. Wellington Pedrosa Quintino. Foto: Rogério Florentino.

A equipe envolvida no projeto era multidisciplinar e realizou entrevistas com lideranças indígenas para identificar desafios e oportunidades. “Os territórios indígenas são exemplos de conservação, e a atividade turística deve fortalecer esse papel em vez de comprometer a biodiversidade”, reforça Quintino.

Um turismo sustentável e respeitoso

 

Leandro Faustino Palastrinio, coordenador da licenciatura em línguas na FAINDI, enfatiza que “o etnoturismo deve ser conduzido de forma a respeitar os espaços sagrados e as práticas tradicionais dos povos indígenas”.

Leandro Faustino Palastrinio. Foto: Rogério Florentino.

Diante de ameaças como o garimpo e o desmatamento, o etnoturismo surge como uma alternativa viável para garantir a sustentabilidade econômica e cultural das comunidades indígenas. “Nossa força está na coletividade e na ancestralidade, que nos mantém unidos após séculos de invasão”, conclui Leandro.

Leia também: Ameaças e proteção da Terra Indígena Kawahiva do Rio Pardo

Leia também: Governo assina acordo para promover e desenvolver etnoturismo em territórios indígenas

PROPAGANDA

MAIS NOTÍCIAS

CATEGORIAS

.

SIGA-NOS

PROPAGANDA

PROPAGANDA

PROPAGANDA

PROPAGANDA